Touro Indomável (?? – 2014)

Paulo Vieira

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Foi como se tivéssemos perdido a inocência. O trágico acidente na USP, o mineirazzo, a pirambeira de Gonçalves. Muita água correu nas últimas semanas. Águas turbulentas. Trobledeuáters, como diz o locutor canhestro. Só quem não correu um mísero quilômetro, e não por ter uma robofoot no pé, foi nosso magnífico Touro Indomável.

Touro fez ainda menos. Se pirulitou. Deu no pé. Raspou. Deu o pira. Vazou. Chispou, o desgramado. Nos deixou.

Que saudade, meu Deus.

Ficamos aqui como náufragos a tentar entender as garatujas que o heroi escreveu na areia. Como arqueólogos juntando os fragmentos de Sexto Empírico.

Este foi seu último texto. Não era para ser o último.

Descanse em paz, meu irmão.

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Depois de seis meses fazendo meu rehab, resolvi correr 5K com o Paulo. Uma distância corriqueira para mim. Mas dentro da academia, em tiros de 1K intercalados com exercícios, água, descanso. Quando o Paulo convidou, achei que seria baba.

O tal dia chegou. Em uma manhã fria, fui ao encontro do jornalista, prosélito e joselito Paulo Vieira no Villa-Lobos, o palco do evento.

Rapidamente, sem muita conversa, Paulo ligou seu relógio dos Jetsons e começamos a correr.

Passados 800 metros, quase que como um golpe de Tyson dos velhos tempos, parei no som. Ofegante, voltei a andar. Pedi desculpas envergonhadas ao Paulo e descobri a primeira variável da corrida de rua:  ritmo.

Na academia, a esteira é quem manda, e geralmente peço para ela mandar a corrida a 9,5km/h. Segundo a parafernália tecnológica do brother, estávamos a um ritmo, ou a um pace, como se diz, de 12km/h, algo que se chama “tiro” na minha querida esteira.

Logo em seguida voltei para um ritmo mais suave. O Paulo me perguntava coisas interessantes que queria responder, mas meu medo de perder o “cárdio” não me deixava desfrutar do bate-papo.

Os bons companheiros
Os bons companheiros

 

Depois fiquei pensando que coisa legal deve ser correr 5K com um brother no parque. Trocando ideia, um domingo qualquer. Já estávamos passando outro quilômetro de corrida quando entramos no fundo do parque, a parte que dá vista para a USP e para a Marginal Pinheiros, e então vi um bebedouro. Ou seria uma miragem?

Donde se introduz a segunda variável da história, o sol. Na academia,  o ar condicionado e a falta de janelas não agridem minha cabeça calva. Água + sol foram motivos de sobra pra eu perder o cárdio de novo, abrir o bico, parar, andar, tomar água e voltar a andar.

O Paulo me falou que a volta toda no parque dá 3,5K, e estávamos próximos da primeira volta. Então pensei: “Vamo que vamo pra coisa não se estender muito, posso não aguentar e fazer pior que a Seleção contra a Holanda.” Voltei a correr e cheguei ao ponto de partida.

Paramos novamente. Balanço: em 3,5K, corri 2,5K e andei o resto. Nessa pegada, em mais uma volta bateria meu personal best. Voltamos à pista, dessa vez com o Tourão bem determinado, e consegui correr melhor, diminuir as paradas.

Outra variável: subidas e descidas, além do asfalto duro. (Nota do editor: subidas e descidas? No Villa-Lobos?). O impacto muda, não consegui tentar aplicar uma passada “técnica”(como se eu soubesse) nesse terreno minado.

Se o Paulo quisesse, teria me dado duas voltas correndo,  o maluco sobra mesmo, me falou até de seu coração de atleta. Final do jogo: 7K, 5K desses correndo. Meu novo recorde.

Se avancei muito no funcional, no aeróbico estou longe de uma forma física top. Mas tem outra conclusão aí: O PSICOLÓGICO MANDA NA CORRIDA, eis o que aprendi naquele dia.

E também: correr na rua muda tudo, piso, sol, subidas, descidas, mudanças de ambiente, pessoas, animais ao seu redor, tentações como bebedouro. Acho que preciso fazer ioga, encontrar meu ponto de equilíbrio e aí voltar ao cascalho.

Mas na próxima quero conversar, trocar ideia e fazer do desafio um rolê como tem de ser.

Valeu muito! Vamo pra próxima.

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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