Na noite em que Don Juan se encontra com Castañeda, relatada nas páginas iniciais de “A Erva do Diabo”, o místico convida o jovem antropólogo (acho que o autor era antropólogo) a dormir em sua varanda. Sobre o chão. Castañeda, acostumado com camas e colchões, reclama da situação. Don Juan, à maneira do mestre do Gafanhoto, devolve na bucha, ensinando-lhe a primeira lição: “Encontre seu ponto.”
Depois de uns 10 minutos à procura de tal abstração, Castañeda acha a embocadura entre seu corpo e o chão, e dorme.
Há nas corridas algo parecido. O ponto é mais conhecido por ritmo – ou “pace”, para usar o esperanto. Mesmo que você não saiba direito qual ele é, você tem um ritmo. O meu está, acredito, na casa dos 11k/h. Surpreendi-me recentemente na corrida que fiz no Minhocão, relatada aqui, com uma velocidade maior do que a habitual. Nos últimos cinco anos, seis talvez, tem sido muito difícil alterar meu pace. É do começo ao fim a mesma tocada. Se por um lado isso mostra que tenho potencial para ultrapassar a barreira dos 20K e das meias maratonas, isso também mostra a dificuldade que meu corpo tem em se adaptar a planilhas e esses treinos de tiro-e-trote que os preparadores passam a seus pupilos.
Há a barreira física e, suponho, alguma barreira psicológica. Fazer sozinho uma corrida com rompantes e descensos súbitos me parece uma missão bastante exigente.
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