O cerrado pertinho de Sampa

Paulo Vieira

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JÁ DISSE ISTO MUITAS VEZES AQUI, e faço-o uma vez mais: se eu tiver de listar as três melhores coisas que a corrida proporciona, a possibilidade de desbravar novos territórios é talvez a principal delas.

Não há veículo off-road que possa fazer frente a quem corre 20, 30, 50 K. Afinal, o cidadão entra em singletracks e quebradas por onde não passam 4×4 e às vezes nem mesmo a mais leve mountain bike.

O corredor, destarte, é seu próprio ônibus de turismo, aqueles de dois andares, teto aberto, sistema de som pouco confiável e guia incapaz de contar piadas engraçadas.

Digo tudo isso como preâmbulo para o remake de uma postagem feita em 2015 pela minha saudosa companheira Julia Zanolli, que deixou este pasquim em busca de causas mais, digamos, globais – hoje ela milita no Greenpeace.

(2015, vai vendo.)

Julia foi conhecer o parque estadual do Juquery, que preserva os mananciais que abastecem o Sistema Cantareira, que garante água de beber para uns 5 milhões de paulistanos.

Trata-se de uma raríssima e ainda preservada área de cerrado colada na Mata Atlântica do quintal de Sampa – o parque da Cantareira. Como destaque do Juquery, há a trilha do Ovo da Pata, que leva a um miradouro com vista total da região, do pico do Jaraguá, da pedreira do Dib e de outros marcos geográficos locais.

O Juquery será cenário, no começo de fevereiro, do Desafio das Serras, com provas com distâncias de 6K, 12K e meia mara. As inscrições estão esgotadas, mas há uma lista de espera para possíveis desistências.

 A CORRIDA COMO SEU PRÓPRIO ÔNIBUS DE TURISMO

EM CUNHA, ABRINDO PORTEIRAS COM BOLAÑO

A MEIA MARA DE NOVA YORK – I DID IT MY WAY

DO QUE EU FALO QUANDO EU NÃO FALO COM O MURAKAMI

Conta aí, Julia.

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DEPOIS DE UMA FELIZ INCURSÃO ao Parque Estadual da Cantareira há alguns meses, com direito a trilha, piquenique e muitos macaquinhos, decidi fazer um bate-volta neste Carnaval ao Parque Estadual do Juquery, em Franco da Rocha, a cerca de 40 quilômetros do centro de São Paulo.

É a última área remanescente de cerrado na região metropolitana, que abrigava o antigo Hospital Psiquiátrico do Juquery. Sempre achei que cerrado era só lá pros lados de Brasília, de modo que foi uma surpresa boa perceber que dá para ver esse tipo de mato por aqui.

Partimos, o digníssimo e eu, besuntados de protetor solar e com a mochila recheada de comidinhas. Confiamos no Waze, aplicativo preferido dos paulistanos que querem fugir do trânsito, e vimos a tal uma hora de trajeto virar duas depois de trapalhadas sem fim.

Passamos por três municípios – Mairiporã, Caieras e Franco da Rocha – enquanto o Waze dizia ser “impossível calcular rota”. Dica importante: olhe bem o caminho antes de sair já que o 3G oscila ou vá de transporte público.

O Parque tem uma área de mais de 2 mil hectares de mata atlântica e cerrado e uma grande diversidade de animais. Segundo o vigia há um casal de onças, além de cachorros do mato, veadinhos e muitas aves. Parece que de manhã é mais fácil avistar os bichos; nós vimos apenas alguns passarinhos.

São seis trilhas, uma delas com 13K, de dificuldade variada. A sinalização é bastante confusa mas os caminhos são bem trilhados e, de modo geral, seguros. Alguns ciclistas se aventuram pelas subidas, cruzamos com uns três pelo caminho.

Não sei bem qual das trilhas fizemos, mas caminhamos quase duas horas pelo parque. Como a vegetação é rasteira, é sol na cabeça o tempo todo. Portanto vale a pena chegar cedo se o objetivo for correr.

Quem animou pode encontrar aqui outras opções de passeios perto de São Paulo, como o famigerado Pico do Jaraguá.

 

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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