A corrida como um ônibus de turismo particular

Paulo Vieira

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ONTEM, PRIMEIRO DIA ÚTIL DO ANO, conheci uma região de que há muito ouvia falar, a Serra do Rio do Rastro, no sul catarinense. Menos por ser cenário desde 2013 do Desafio Mizuno Uphill – de que nunca participei – e mais por minhas decanas ligações carnais com Santa Catarina.

Poderia descer do carro e correr alguns quilômetros pelos cotovelos sem fim da serra, mas não sucumbi ao fetiche. Não há acostamento nem calçadas e o tráfego desaconselhava o cascalho.

Mas deu para perceber que a Mizuno, exceto pela logística, que deve ser bem complicada, acertou ao montar seu circo anual ali. As muitas dezenas de curvas fechadas, o ganho de altimetria de mais de 1000 metros (você sai de Lauro Muller a 220m e chega a Bom Jardim da Serra a 1245m), a vista panorâmica que o corredor despreza: tudo é do grande e luminoso carvalho.

Quando termina a serra não se está em Machu Picchu, mas a estrada lembra muito a que conecta Aguas Calientes com a cidade sagrada dos incas. Bom Jardim da Serra, contudo, também tem seus encantos – a paçoca de pinhão do gaúcho Júlio, na beira da SC, por exemplo.

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Tenho vontade de participar do Desafio Uphill da mesma forma que tenho de correr certas maratonas. Trata-se de um fetiche.

Mas é diferente se servir da corrida para visitar um atrativo turístico, algo que fiz no último dia do ano. Corri da balsa de Laguna até o Farol de Santa Marta, cartão postal do litoral catarinense, um 36K, se o Google Maps não me engana, entre ida e volta.

O Farol eu já conhecia, mas minha última estada no local era anterior à queda das Torres Gêmeas, quando fui até lá de quadriciclo.

Não foi uma corrida redentora, dessas que passam por cenários que merecem a profusão de adjetivos das revistas de turismo, ainda que os costões perto do Farol valham o ingresso.

Todo o trecho de ida foi por estrada visualmente monótona. Houve certo ganho cênico na volta, quando me servi de uns 8K da areia fofa da praia da Cigana.

Mas o que estava a fazer tem muito a ver com o que disse adrede neste pasquim: palmilhar cascalho novo, derivar por uma trilha jamais percorrida, ser o meu próprio double decker, o ônibus de dois andares muito usado como transporte turístico, não tem preço.

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Seria dar muita sopa para o pensamento mágico dizer que começar o ano (ou terminar, para ser mais fiel aos fatos) correndo uma quase maratona apenas para ver um ponto turístico prognostica alguma coisa. 

Mas quem sabe não seja hora de deixar o Esteves sem Metafísica ganhar espaço e passar a acreditar que essa experiência pode trazer sim muitas outras similares ao longo do ano. 

Que venham então muito mais faróis, estradas e trilhas novas para conhecer correndo.

Não existe maneira melhor de fazê-lo.

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

Um Comentários

  1. Avatar
    Jorge Cerqueira

    Parabéns, serra sinista e encantadora…Corri ela em 2015
    https://www.youtube.com/watch?v=x8SXwN3V7Zc

    Bons treinos,

    Jorge Cerqueira
    http://www.jmaratona.com

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