A (meia) mara de Nova York – I did it my way

Paulo Vieira

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NO METRÔ, UM CARTAZ PROMOCIONAL da Mara de Nova York, que acontece daqui a 26 dias, chamou-me a atenção. O slogan é forte, dizia algo, se me lembro bem, como “o único dia em que o homem torna minúsculos os prédios de Nova York”.

O verbo usado é to dwarf, que deriva do substantivo dwarf – anão (verticalmente prejudicado?).

O único dia em que as pessoas fazem isso com o skyline mais famoso do mundo é um domingo, este ano em 6 de novembro. Em Nova York, a Mara é um evento celebrado pela cidade inteira, muito mais do que outras datas também festivas – como o Columbus Day de hoje.

No exato momento em que escrevo deste café, aliás, acontece uma parada mixuruca na Quinta Avenida.

Os 42,2K passam pelos cinco distritos da cidade, trazem enorme receita financeira e levam moradores às ruas para incentivar os corredores.

Para quem trata esse tipo de evento como rematado fetiche, caso do editor deste pasquim, querer agora participar disso parece uma confissão de incoerência – ou de ser aquilo que o Barba chamava de metamorfose ambulante.

Claro que seria legal participar disso, mas não pretendo tirar esses 500 dólares plus todas as despesas (avião, hotel, Momofuku) do uísque das crianças. Sendo assim, aproveitei a manhã fria e chuvosa de ontem para fazer meu simulado de, admito, meia maratona.

Basicamente deixei minha goma no Brooklyn, corri os 3,5-4K que separam-na da ponte de Manhattan, tomei a dita cuja – havia outros nela que tiveram a mesma ideia – e deixei-a já na confusão de Chinatown, ainda não tão confusa, é verdade, naquela hora do dia.

Rodei sentido SoHo, passei pela famosa Prince Street, aquela que ferve aos sábados, como eu mesmo tinha visto na véspera, e subi em direção a Midtown. Estabeleci, ou minhas pernas estabeleceram como limite norte a rua 14.

Para retornar pela ponte de Williamsburg, cortei o East Village na chamada Alphabet City (as avenidas ali não são numeradas, recebem os nomes de A, B, C e D).

PERDENDO-SE NO BROOKLYN

COMO NÃO CORRER A MARATONA DE NYC, POR GESU BAMBINO

Como eu estava quase à beira do rio Leste, foi preciso voltar muito para chegar à entrada da ponte. Como as vizinhas, a ponte de Williamsburg tem tabuleiro muito alto, então é preciso andar muito para tomá-la.

Dwarfs/Foto: Publicdomainpictures
Dwarfs/Foto: Publicdomainpictures

A chegada ao Brooklyn foi novamente confusa, como na corrida de terça passada, e precisei me entender (mal) com o rio, que teria de estar sempre à minha direita, para ter certeza do rumo a tomar.

Foi com alívio que encontrei a velha Myrtle Avenue aos 105 minutos de corrida.

É curioso como a corrida tem o condão de fazer o que veículos com algum tipo de propulsão fazem. Se não houver nenhum compromisso com pace, tempo a ser quebrado e outras baboseiras, a gente consegue efetivamente passear pela cidade. Uma bela economia em relação ao double decker com teto aberto.

A autonomia é enorme. Sinto que não seria difícil ficar mais uma hora no cascalho. Infelizmente, havia compras na Century 21 a fazer.

Como já disse aqui tantas vezes, é para isso que a corrida serve.

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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