“Se você gosta de correr, você termina uma maratona”

Paulo Vieira

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Não deveria ser nada demais, mas não é assim que funciona. Correr uma maratona, notadamente a primeira, dá um frio na barriga, parece exigir um comprometimento supra-humano, faz com que pensamentos derrotistas invadam sua cabeça.

COMO NÃO CORRER A MARATONA, POR GESU BAMBINO

A PRIMEIRA VEZ A GENTE NÃO ESQUECE, versão PVC

A PRIMEIRA VEZ A GENTE NÃO ESQUECE, com EMOÇÃO

OS QUENIANOS DA PIZZA

O JORNALISMO À PVC

Como eu já passei por isso – vou para a segunda, em abril –, mas há sempre gente debutando, como os velocistas da 1900, os quenianos da pizza, e um camarada da academia aqui perto de casa, resolvi escrever esta pequena cartilha.

Todos juntos vamos
Todos juntos vamos

1. Nunca me testei nessa distância. O máximo a que cheguei foi 32K, e ainda assim dando uma parada, a rapaziada da assessoria dando força. Vai dar?

Embora muita gente relate que faz a maratona sofrendo com dor, câimbras e coisas do tipo, para mim (e para Tim Noakes), a cabeça é a chave de tudo.  Eu já tinha corrido 25K daquele mesmo percurso da Mara de São Paulo, e quando vi as pessoas que ficavam nessa distância olhando com admiração para todos que seguíamos nos 42K, pensei que ainda tinha muita energia para queimar e que poderia ter avançado muito além daquele ponto também no ano anterior.  Os 17K que se seguiram não foram pesados, ainda que meu ritmo tenha baixado.

CÂIMBRAS, SUOR E LÁGRIMAS

É A CABEÇA, ESTÚPIDO

A ESTRATÉGIA KUROSAWA

2. Você diz que o bagulho tá na cabeça, mas tem a história do muro, do esgotamento fisiológico aos 30K-35K, quando não há mais reserva de energia para tirar do corpo. 

Verdade. Entrevistei aqui Mario Sergio Silva, da Run & Fun, e ele disse o seguinte: “Até o 30K está todo mundo feliz, ou, se nem tanto, é a partir desse momento que a gente começa a ver no rosto e na performance do corredor sinais de que a coisa começa a complicar. Nessa hora a gente depleta nosso glicogênio, e o desgaste só aumenta com o passar do tempo. Você pode comer o que quiser antes da corrida, mas se não houver reposição nas duas primeiras horas da prova, não tem de onde tirar. A reposição de carboidrato é fundamental”. Apesar disso, eu só fui tomar gel de carboidrato com o relógio marcando 3:15, 3:20 de prova. Pode ser que tenha sido servido isotônico em algum momento, e eu tenha tomado, não me lembro bem. Enfim, devo ser uma exceção.

MARIO SERGIO SILVA E O MURO DOS 35K

COMECE DO COMEÇO: GOSTANDO DE CORRER

ATLETA E TREINADOR

LONGÃO, A HISTÓRIA POR TRÁS

3. Então talvez seja uma boa ideia fazer diferente de tu, e levar um gelzinho de carboidrato, né não?

Acho. Quando corri uns 30K com Treinador, 20 dias antes da Mara de SP, ano passado, ele me fez tomar um durante o treino. Mas, como vimos, não precisei deles no Dia M. Mas me parece que o gel de nada vai adiantar sem uma estratégia mental. A expressão não é boa, pois dá a dimensão de algo complexo demais, e, sinceramente, não é isso. Como disse o Gesu Bambino, que fez os 42K em Nova York, a partir de uma certa distância a “cidade te leva”.

4. A cidade pode te levar em Nova York, mas e em São Paulo, onde não tem ninguém na rua?

Cara, como você é insistente! Sim, você tem um ponto. Mas você lembra de ter feito seus longões com torcida? Na Mara de SP, recordo-me de uma mensagem escrita no asfalto, na USP, no 30K. Já não lembro direito o que dizia, mas era algo assim: “10K de esforço, 2K de superação e 200 metros de loucura”.  Os 200 metros finais foram mesmo de loucura, isso eu posso garantir, mas sei que daquele 30K até o pórtico final o tempo passou rápido,  mesmo que, na hora fria do relógio, tenha sido mais de uma hora. Então não acho que o esforço tenha sido tão esforçado assim.

5. Se tem alguma lição que eu e seu batalhão de leitores deve tirar daqui, a parada é tipo: relaxa e goza?

Obrigado pelo batalhão. Olha,  o postulado Marta Suplicy talvez não valha para todo mundo. Há de fato gente que sente o esforço muscular e começa a não entender o que diabos está fazendo correndo com aqueles poucos que resistiram a seu lado. Mas ter uma diversão pra cabeça, como a Estratégia Kurosawa, repito, vai ajudar bastante. No mais, ainda não inventaram nenhuma grande mágica, é preciso treinar minimamente. Mas só treina minimamente quem gosta de correr. E se você gosta de correr, você termina uma maratona.

 

 

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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