NÃO FOSSE MATERIAL COMPLETAMENTE INADEQUADO para a atividade física, o látex que cobre o corpo dos pés à cabeça do fetichista sexual poderia servir ao maratonista.
Pois, insisto, não há fetiche maior do que correr os 42K.
O corredor que termina a mara pela primeira vez tem a sensação de ter transposto uma divisa mística.
Ajuda nessa impressão o, digamos, inconsciente coletivo. Afinal, nove entre dez comentadores da corrida amadora associam à prova palavras como “respeito”, “planejamento”, “preparação”, como se fosse vedado ao candidato a maratonista ter um comportamento, vamos dizer, festivo.
É PRECISO DESRESPEITAR A MARATONA
MARATONA, O FETICHE
NILSON LIMA, O HOMEM DAS 220 MARATONAS – E CONTANDO
HEROI FUNG E A CORRIDA COMO PRAZER, NÃO COMO GUERRA
MINHA PRIMEIRA MARATONA, VIVACE
NINGUÉM VIRA NINJA POR TERMINAR A UPHILL
AS LIÇÕES DE NUNO COBRA JR.
Fico a pensar quanto respeito é necessário para concluir a mara do Médoc, cujos postos de hidratação servem vinho bordalês, ostra e brie.
É preciso ainda caprichar na fantasia antes de alinhar para a largada.
Pois bem: uma vez tendo completado a primeira mara, correr a segunda, depois a terceira etc. vira quase uma obsessão. Mas ao contrário do que se costuma afirmar, a exigência física supostamente extenuante dos 42K pode ser muito menor do que a de um 10K feito no pau.
Embora a definição não seja exatamente precisa, o 10K é o que se chama de prova “anaeróbia”, em que as fibras musculares de contração rápida, que consomem energia advinda de processos anaeróbios – em que não há dependência crucial do oxigênio –, são protagonistas.
Na mara, importa mais manter certa cadência, uma velocidade de cruzeiro, digamos, ritmo que pode vir a ser bastante confortável.
Daí a pouca dificuldade de muita gente, pessoas acima dos 40, 50, 60, 70 anos, de empilhar maratonas e ultras no currículo.
Treinador diletante de corrida e orientador de diversos maratonistas e ultramaratonistas, Heroi Fung, ouvido por este pasquim, explica:
“A prova anaeróbia é mais exigente, é de explosão, ali se queima tudo. Tudo pode acontecer.
A maratona é diferente, se o corredor pegar sua frequência cardíaca – a maioria não pega – e não chegar ao limite dela, a exigência fica bem mais suave.
Ele vai fazer menos esforço físico, embora passe muito mais tempo correndo. Mas o desgaste é muito menor do que de um 10K.
As longas distâncias exigem paciência. Mas nessas provas atinge-se um estágio em que não se pensa em mais nada. Quando o sujeito vê, faltam só 12K.”
Ele não usou a expressão, mas esse momento de “não pensar em nada” é a tal meditação ativa, conceito defendido por muita gente, como o coach Nuno Cobra Jr.
Nuninho não prescreve um receituário de longas distâncias a seus discípulos; prefere malabares, slackline e outras atividades de concentração, mas isso fica para outro momento.
Boa tarde. Farei minha primeira Meia Maratona dia 09-09-2018(Meia de Vitória E/S)aos 47 anos e estou me preparando para resistir os 21km.
Gostei da comparação entre 10km e 21km.Levarei comigo pra corrida.
Certamente vai resistir e fazer bonito, Douglas Gomes. Conta pra gente depois como foi. E, se quiser, leia este texto sobre minha reestreia na meia mara do Rio. Um abração https://jornalistasquecorrem.com.br/2013/07/a-maratona-do-rio-uma-homenagem/