12 razões para deixar o smartphone bem longe do treino

Paulo Vieira

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EXISTE UMA RIDÍCULA DIVISÃO no mundo da corrida, importada sabe-se lá de onde, entre o sujeito que se proclama “de raiz” e o que não se proclama de lugar nenhum – o que permite que o cara supostamente de raiz o chame de “nutella”.

Curiosamente, o cara de raiz se permite usar alguns equipamentos esportivos como um relógio/marcador de pace, mas acha que é fru-fru, como li num comentário a uma postagem deste pasquim semana passada, usar cintas de borracha que substituem (muito bem) o cadarço.

Na minha opinião não poderia estar mais equivocado o simpático Flavio Rodrigues da Silva, que escreveu: “Muito equipamento pra pouca corrida… tem que amarrar e já era kkkkk #Raiz.”

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Pode ser que Silva domine a arte do macramê – ou que tenha servido na marinha –, e com isso seus nós são à prova de corrida. Do contrário, só com essas alternativas ao cadarço para não parar no meio do cascalho para amarrar o tênis.

Posto isso, afirmo que continuo pouco interessado em tecnologia, tampouco apps de corrida. Tudo me parece peso extra. Já usei relógios atados ao pulso, mas consultá-los a todo instante não deixa de ser uma profanação da buena onda que o cascalho necessariamente traz para o corredor.

E isso acaba se tornando um vício, como tantos podem testemunhar.

Há três anos, publiquei estas 11 razões para deixar o smartphone longe do treino. Acrescento agora mais uma, por amor de poder chamar o compilado de dodecálogo.

Evoé

1.  O aparelho não ajuda propriamente você a correr. E significa algumas dezenas ou centenas de gramas a mais nos milhares ou dezenas de milhares de movimentos do seu corpo.

Deixe um desses em casa/Foto: Marco Verch/Flickr

2. Em geral, corredores suam. Em geral, suor molha o corpo e o que está nele. E, assim como as formigas, água não é amiga dos circuitos eletrônicos.

3. Se você o levou consigo, foi possivelmente para usá-lo. Para usá-lo, terá de parar o treino. Não que seja o fim do mundo, mas tem gente que gosta de melhorar seu tempo.

4. É uma distração a menos caso você queria se concentrar de verdade na corrida.

5. As chances de deixar o aparelho cair, perdê-lo ou tê-lo subtraído pelos amigos do alheio diminuem consideravelmente caso você o deixe em casa.

6. Saber duas horas depois que a página 15 do power point que enviou com a apresentação do mês está ilegível, pensa bem, é um alívio.

7.  Não vai ter de tomar conhecimento que o Edsinho fez os mesmos inacreditáveis 15K que você suou feito uma porca para vencer, mas, no caso do desgraçado, ele treinava subida.

8. As 100 calorias de diferença que essa mesma distância de hoje lhe consumiu na semana anterior não serão motivo de desespero.

9. A memória de seu aparelho não perderá outro megabyte de espaço com mais uma foto do por-do-sol.

10. Um selfie a menos de você todo desconjuntado.

11. Você estará livre, por um tempinho, das listas engraçadinhas da internet.

12. Você finalmente poderá olhar com certa superioridade os pobres viciados digitais que não conseguem desgrudar do aparelho durante as 24 horas do dia. Por alguns minutos isso pode fazer bem, quem sabe, para sua autoestima.

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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