Ritmo é rei

Paulo Vieira

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O FOTÓGRAFO PAULO HENRIQUE PAMPOLIN, o Pampa, anda serelepe. Semana passada, pela primeira vez desde que começou a correr, no fim do ano passado, ele completou a marca semimítica da meia maratona, os 21K.

Useiro e vezeiro de aplicativos de compartilhamento de treinos de corrida, ele não fez segredo dessa notícia. Não foi difícil, igualmente, acompanhar sua rapidíssima evolução.

PAULO PAMPOLIN EXPLICA COMO FAZER ÓTIMAS FOTOS

A PRIMEIRA MEIA DO RIO

ATLETA E TREINADOR

Muita gente faz transições mais lentas: depois de um tempo correndo provas de 5K, embarca para os 10K e aí fica uma boa cara até resolver enfrentar a meia. Puxando pela memória, vejo a mim mesmo com dúvidas se terminaria a meia do Rio, minha estreia em provas, mesmo rodando em treinos – palavra que não usava à época – 15, 16, 17K.

Se bem me lembro, externei essa inquietação a Treinador, que a achou descabida.

Meu desafio, se é que a palavra é cabível, sempre foi de resistência. Jamais me interessei muito pelo relógio – apetrecho que uso em uma a cada três saídas endorfínicas. Assim como com o Pampa, o ganho de alguns quilômetros à medida que as semanas avançavam sempre foi motivo de alegria.

Depois daquela meia do Rio veio outra meia do Rio, completada aí sim comme il faut, sem intercalar caminhada; vieram também outras corridas em diversas praças, montanhas, a sakura de Campos do Jordão e as porteiras de Cunha.

SAKURA E SUOR NA MANTIQUEIRA

FUSCAS, BOLAÑO E PORTEIRAS NUMA CORRIDA RURAL EM CUNHA

A CORRIDA DO PIKO

Ao fim e ao cabo, como na formulação famosa, a história se repetiu: mesmo tendo corrido algumas vezes os 30, 32K do circuito Lapa-Piko-Lapa, a pergunta vinha e voltava: vai dar para encarar os 42K?

Deu nas duas vezes que tentei, sempre na mara de SP, e na segunda o relógio marcou um tempo 12 minutos melhor, à despeito do blá-blá-blá de certo parágrafo acima.

Recentemente passei a correr com companheiros de pace mais lento. Nessas corridas em que a conversa é o grande diferencial, noto que meu esforço é mínimo. Costumo dizer que poderia correr o dia inteiro naquele pace.

A NOITE MUITO ESCURA DA NIGHT RUN, POR CARLOS TURDERA

O INVESTIGADOR

TEMPO, TEMPO, TEMPO

E foi exatamente isso o que falei a Pampa. O busílis é O RITMO, NÃO A DISTÂNCIA. Embora isso seja canônico entre treinadores de corrida – e vem daí o fato de insistirem tanto em treinos intervalados e variações de ritmo –, essas corridas em ritmo de trote soaram como uma revelação para mim.

É PRECISO DAR LOGO UNS TIROS

NO PAIN, NO GAIN

ONDE ANDA TOURO INDOMÁVEL?

A mais longa delas, que teve um período de cascalho solitário no prólogo, durou 1h30. Saí dela com a sensação de ter corrido muito menos do que podia. Se a conversa com os parças se alongasse por quatro, cinco, sete horas, talvez eu finalmente percebesse algum esforço.

Mas a percepção do esforço vem fácil, como todos sabem, nos tiros e nos treinos de subida. Por isso este texto tem um quê de melancólico: esta é a rendição cabal de que os treinadores e seus malditos intervalados estavam certos.

O saudoso Touro Indomável, sempre ele, já havia cantado a pedra há mais de dois anos. Disse-me, profeticamente, em seu próprio idioma: “No pain, no gain”.

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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