Uma corrida pelo fogo olímpico

Paulo Vieira

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DE UM LADO, UM PRESIDENTE de uma entidade, o Comitê Olímpico Brasileiro, que não larga o osso há exatos 21 anos. Seus mandatos parecem se renovar indefinidamente, à maneira de líderes africanos. No currículo, a organização de uma edição dos Jogos Panamericanos que ficou dez vezes mais cara do que o previsto, entre outros feitos.

Do outro, uma presidente da República que está a dias de ser impichada pelo Senado, tamanha sua fragilidade política.

Não poderia ser mais anticlimática a cerimônia da chegada da tocha olímpica ao Brasil, marcando os três meses que faltam para o evento. Viu-se e conheceu-se mais do ensaio sensual da mulher do 258º ministro do Turismo do governo Dilma do que do desembarque da tocha.

Ela, a tocha, não a miss Nádegas Avantajadas, passa hoje por Corumbá de Goiás, pela bela Pirenópolis e dorme em Anápolis. Amanhã chega a Goiânia.

Aí roda o Brasil mais do que a Caravana Prestes, passa por todos os estados e desembarca no Rio em 4 de agosto. Um belíssimo espetáculo que mais uma vez conseguimos transformar em patacoada.

Erich Beting, em sua coluna do UOL, contou mais uma anteontem: a dias de a tocha chegar, as 12 mil pessoas comuns (com CIC, não CNPJ) que ganharam o direito de carregar a parada nas promoções dos patrocinadores ficaram sabendo que o custo de ter essa honra seria 2 mil pratas por cabeça (R$ 1985,19, caso algum idiota da objetividade nos leia).

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Mal as reclamações pululavam nas redes sociais, os patrocinadores agiam para minimizar os danos: vão pagar o “mimo” para as pessoas que ganharam a promoção.

Não me inscrevi, mas claro que carregaria o troço, se pudesse. De qualquer forma, se vale como consolo, posso dizer que conheço a cidade onde os Jogos nasceram: Olympia, na Grécia.

Em viagem para a revista Viagem e Turismo, da editora Arvorezinha, onde militei por década e meia, estive nas ruínas do sítio original onde tudo começou, na Antiguidade.

CORRIDAS PELO MUNDO: JAPÃO

CORRIDAS PELO MUNDO: ÁFRICA DO SUL

CORRIDAS PELO MUNDO: MARATONAS

CORRIDAS PELO MUNDO: TAMBABA

PRESEPADAS PELO INTERIOR: CERQUILHO

CHAPADO NA CHAPADA DOS VEADEIROS

AS MARCAS SE MEXEM

PROTAGONISTA DA PRÓPRIA HISTÓRIA

Lembro de ter visto, entre pedras e colunas, a palestra, o vestiário dos atletas de 2 700 anos atrás, mas minha parca capacidade de abstração não conseguia divisar muito além do que eu via: pedras e colunas.

Numa viagem à Grécia, vendo ruínas pela enésima vez, você se convence a achar que as coisas sempre estiveram daquele jeito. Por sorte, há sítios muito mais preservados, como o belíssimo teatro junto ao Santuário de Asclépio, em Epidauro, no Peloponeso. Recomendo.

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Posto isso, é preciso dizer que naquele tempo eu ainda era um cadete, um novato do cascalho. Mesmo desejoso de correr entre Atenas e Maratona – e assim fazer o 40K histórico que deu nome à coisa toda –, ainda não tinha no meu currículo corredor as longas distâncias de hoje.

Então preferi me garantir com uns giros rurais menores. Um deles, possivelmente em Olympia, me levou por caminhos de terra lindamente pastoris. Em dado momento, tive a passagem interrompida por um rebanho de ovelhas e seu pastor, que dominavam toda a estrada.

Um dos momentos mais lindos de toda a viagem. Com queijo feta, verduras frescas e azeite abundante, vixemaria.

 

 

 

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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