Sou só gratidão, como se diz hoje, ao Fessô SX, o jornalista que, antevendo a bronca, virou treinador desportivo e prescreveu sua bula mágica para este aluno dedicado a 17 dias de sua, digo, minha primeira maratona, maratona concluída sem sustos, quebras, dores ou evocações divinatórias.
Fessô também escreveu algo a nosso respeito estes dias em sua coluna, publicada regularmente num dos conglomerados eletrônicos da Editora Abril. Chamou atenção para uma suposta doideira de seu pupilo, que “nunca havia tomado sachê de gel” e “saía correndo ‘à la loca'”.
Tudo isso é verdade, mas Fessô, com os resíduos do jornalismo ainda muito impressos em seu metabolismo, exacerbou bastante o componente “doideira” deste neomaratonista. Isto porque há vida, muita vida fora do treinamento convencional. Para nós doidos – eu prefiro mavericks – existem alternativas aos tiros, ciclos de quatro meses, aumento e declínio de volume, polimentos.
E isso a gente percebe correndo. Foram poucos os concluintes da Mara de SP, é verdade, mas uma parte significativa dela, deu para perceber nas conversas, é de “doidos”, como diria Fessô. Eis meus argumentos.
MITO Consensual entre os treinadores, é preciso ir quase ao máximo do esforço cardiorrespiratório para ter sobras que nos ajudem na resistência. O sucesso por não quebrar ou mandar tudo às favas depois do 35K seria consequência direta, portanto, daqueles 12 tiros de 1 minuto feitos com o coração na boca (ou seja com 90% do batimento cardíaco máximo).
DESMINTO Foram poucas as vezes que me dediquei intensamente ao treino de tiro, ou intervalado, como se diz. Não dá para dizer que jamais mandei ver na intensidade (com aquela pista de atletismo cheirando a nova do Cepeusp, quem nunca?), mas fugi como Drácula da cebola da porrada. Sim, houve uma perda de rendimento nos últimos quatro, cinco quilômetros da maratona, mas isso pode também ter a ver com o muro, certo?
VOLUME
MITO Correr, correr e correr muitos quilômetros não é treinar corrida, é rodar.
DESMINTO A questão pode parecer semântica, mas é mais tinhosa: é ideológica. Pois chamar correr de “rodar”, além de evidente menoscabo, tira da corrida algo primordial: o prazer da corrida. Se não há prazer, pra quê? Os treinadores podem dizer: não vai haver evolução. Se isso fosse verdade, restaria outra pergunta: evoluir é preciso?
MITO Suplementação é fundamental na maratona.
DESMINTO Não oferecerei aqui o contraditório, mas acho que me resolveria bem sem o gel de carboidrato na Mara de SP. Afinal, só fui ter com ele lá pelo 37K. Sim, houve batatinhas no 30K e isotônico ao longo do percurso. Segundo diversos nutricionistas, o isotônico – de 500ml a 900ml a cada hora de exercício – se encarrega de devolver o glicogênio perdido.
CICLO
MITO É preciso ter foco no principal. E para se preparar para a maratona foque num ciclo de quatro meses.
DESMINTO Foco nunca predominou no meu repertório – talvez venham daí meus problemas corporativos, mas isso não vem ao caso. Ah, a Bruuuuna… Ah, o zodíaco… A questão: você vai se sentir melhor se fizer tudo da maneira convencional? Sim? Então deita o cabelo. Mas e se você, digamos, estiver na Pedra da Macela e resolver encarar a volta para Cunha, com aquelas pirambeiras todas, correndo? Vai se poupar dessa “rodagem” histórica só porque naquela semana o longão era de 15K? Só não faça isso na semana da Mara, que aí é espeto.