Do que falamos quando falamos de corrida – Versão adágio

Paulo Vieira

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Adoro adágios. Especialmente quando eles conseguem expressar o máximo com o mínimo, como se tivessem função algébrica. Adora também a palavra adágio e alguns de seus sinônimos como máxima e aforismo.

E como a internet vive de listas, nada como uma lista de adágios sobre a corrida. Nós do JQC já demos aqui 51 razões para correr, publicamos os 10 mandamentos sagrados da atividade, redigimos sob o sol inclemente do Planalto Central um teste com 21 questões para saber que tipo de corredor você é.

Faltava, não falta mais, esta lista de adágios, aforismos, máximas. Segura aí.

– Correr é bom, mas nenhuma sensação é melhor do que parar de correr. Minto: a primeiro água ou o primeiro isotônico após o cascalho, isso não tem preço. (Crédito inspiracional: Chico Barbosa)

– Há pessoas (inclusive alguém do meu CEP) que correm para poder beber mais; mas depois que a gente começa a correr fica fraco pra birita. Muito louco.

– Quanto mais você corre, mais você lastima os dias que não correu. Isso pode ser um problema.

– Não é comum, mas há gente – de novo aqui no 05050 e tantos, vai vendo – que corre para conhecer a cidade; mas se o pace está rápido demais, babau turismo.

– Na corrida ninguém dá cotovelada no adversário. Talvez por não haver adversário?

– Corrida: chance de ouro para você fazer um detox digital uma horinha por dia. Mas, por via das dúvidas, já há paus-de-selfie dobráveis.

Velocidade = belicosidade. Mas e pra apascentar o corpo depois que você pega o pace?

– Maratona? Quero ver fazer marcha atlética.

– Carnaval em Salvador, show do Bruce Springsteen, agora você já consegue encarar. Questão: quem disse que vai querer encarar?

– Quem corre seus males espanta? Olha que eu já corro faz uma data.

– É o barato – tu pode correr até descalço – que sai caro: ortopedista fora do convênio, inscrição pra maratona de Nova York, proteína hidrolisada etc.

– Correr liberta. E logo na segunda semana você já contratou um treinador que dá berro às 7 da manhã e que te amarra a uma planilha de metas.

– A imagem da liberdade: uma pessoa correndo numa montanha, o cone nevado e perfeitamente triangular de um vulcão no fundo da foto; mas a realidade normalmente é um pouco mais avenida Sumaré.

Avenida Sumaré
Avenida Sumaré

– Entre o prazer e o sofrimento, fique com os dois. (apud Donatien Alphonse François)

– Estranho: quando a gente começa a correr, 10K, 15K, 20K são pinto. Mas e a disposição para andar até a estação de metrô mais próxima?

– Uma bem técnica do Murakami: Músculos são como animais de carga. Rápidos em entender as coisas. Se você aumenta a carga cuidadosamente, eles aprendem a puxá-la. Se, porém, a carga é aliviada por alguns dias, os músculos automaticamente assumem que não precisam mais trabalhar tão duro e baixam seus limites. Músculos são como animais, querem ficar no maior conforto possível.

– Corrida: peteca de quem não tem praia. Ou de quem não mora na Zona Sul. Ou de quem não sabe fazer adágios.

Macarronada da nona. Sim, você pode repetir. Digo mais: você deve.

Bônus track: minha história com Murakami.

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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