UMA DAS DEFINIÇÕES COMUNS ACERCA da corrida de rua atesta que, em provas, o corredor está muito mais interessado em competir consigo mesmo do que disputar com os colegas ao lado.
Essa seria uma das razões pela qual o esporte é considerado muito solidário.
Asi es, mas não é só assim, acho.
Um corredor rápido numa prova rápida, um 15K ou uma meia, pode muito bem deixar para os colegas mais lentos a prestação de uma eventual ajuda. Normalmente tais socorros são mais de ordem psicológica – ambulâncias costumam ser acionadas para problemas mais graves.
Numa maratona como essa de sábado passado, a da Serra do Rio do Rastro, as coisas se modificam. Como disse no post de ontem (primeiro link abaixo), tirante uma pequena elite muitos participantes caminharam por longas seções da serra, que se erguia imponente nos últimos 7K do percurso.
ESPECIAL UPHILL – DESCONSTRUINDO A MONTANHA
ESPECIAL UPHILL – SEM ESSA DE NINJA
ESPECIAL UPHILL – ENTREVISTAS SUADAS/NILSON PAULO DE LIMA
ESPECIAL UPHILL – ENTREVISTAS SUADAS
MINHA PRIMEIRA MARATONA, VIVACE
MINHA PRIMEIRA MARATONA, ANDANTE MODERATO
MINHA SEGUNDA MARATONA, HAIKUS
MINHA TERCEIRA MARATONA, JET LAG
MINHA QUARTA MARATONA, DURA LEX, SED LEX
NILSON LIMA E SUAS 160 MARATONAS
Não é difícil, assim, que o clima de camaradagem medre. Duas pessoas a caminhar têm mais facilidade de conversar do que quando estão a correr – até porque, neste caso, precisariam estar no mesmo pace.
Além disso, o suposto sofrimento da subida acaba por irmanar os competidores. Digo “suposto” porque ao parar de correr o participante reduz muito esse sofrimento.
Considero sofrimento maior correr um 42K à beira do mar, com altimetria zero, mas deitando o cabelo do começo ao fim.
Tudo isso para dizer que no sábado passado conheci alguns parceiros de corrida. Vários com quem falei, e que serão objeto das “entrevistas suadas” ao longo desta semana, têm um histórico de longa distância respeitável.
Nilson Lima, que só este ano pretende correr 28 maratonas era o hors concours. Ele já foi perfilado por este pasquim, mas eu não o conhecia pessoalmente, e foi um prazer estar com ele na prova.
O baiano Diego Lessa, com quem cruzei diversas vezes durante a Uphill – fizemos tempos muito próximos no final –, tinha sempre uma palavra de incentivo para os caminhantes, ainda que ele mesmo e seu parça Alexandre Biazon tenham parado de correr durante diversos trechos.
(A quem interessar possa: meu tempo líquido ficou em 4:44:37 – sete segundos abaixo da meta!)
Mas o caso mais bacana é de um funcionário público de Brasília tão entrado em anos quanto o editor deste pasquim que me disse que faz maratonas sub 3h20.
Ele havia visto que meu número de peito capengava e me ofereceu um de seus alfinetes.
Foi um gesto muito bonito, e como recíproca não lhe contei a história abaixo, quando, novamente sem alfinetes, deixei cair o bib na meia SP City e tive de dar uma finta no tiozão leão de chácara que veio babando para cima de mim a metros do pórtico de chegada.
PRESEPADAS NA SP CITY MARATHON
Curioso paradoxo: naquela ocasião, perdi o bib e ganhei a narrativa; nesta, ganhei o alfinete e não perdi a história.
Abrindo tudo/Disclosure: o editor deste pasquim teve a inscrição para a Uphill e o traslado no ônibus do pórtico de chegada a Treviso, local da largada dos 42K, bancados pela Mizuno