O HOMEM-MARATONA NILSON LIMA, 66 anos, esteve em São Paulo neste fim de semana. Ontem foi a Votorantim para correr na Serra de São Francisco a 248ª mara de sua vida. Nesse número absurdo também estão incluídas ultramaras, como a Comrades, que ele faz questão de correr todo ano – não será diferente em 2019.
Como é costume, pegou pódio – segundo lugar – na categoria de 60 a 69 anos. Na véspera, sábado, falou por hora e meia com o editor deste pasquim – a conversa virou um “live” no Instagram, e como todo “live” do Instagram desmanchou-se no éter exatas 24 horas após sua exibição.
Por isso compartilho aqui, de (fraca) memória, as melhores passagens da conversa.
A COLEÇÃO DE MARAS
Depois de correr 55 provas em 2018 – faço a conta pra você: uma prova por semana e ainda três de lambuja –, Nilson vai desacelerar este ano. Desacelerar para os critérios dele, pois pretende chegar até 31 de dezembro com cerca de 30 maras e ultramaras disputadas.
A ideia é guardar para a mara Nilson Lima, de Uberlândia, sua cidade natal, em 2021, um certo número redondo aí da coleção. Mais ou menos como fez o Lula Holanda, fundador da Acorja, que ficou numa seca de maratonas para chegar à sua centésima exatamente na prova que organiza, a Mara das Praias, em março deste ano.
A CURADORIA DE PROVAS
Duas forças principais orientam a curadoria de provas do Nilsão. A primeira é a recorrência. Ele faz questão de participar de certas provas todo ano. Como Boston, fetiche do fetiche do fetichista-mor, o maratonista, e a já citada Comrades, a ultra de 90K da África do Sul. Também gosta de estar todo novembro em Nova York, mas este ano, por razões logísticas, não vai rolar.
A outra é a vontade de desbravar novos cenários – desde que as maras sejam mais ou menos tradicionais. Duas que estão no radar, nesse quesito, são a prova de Pequim, da Muralha da China, e a maratona do Vinho do Medoc, na França. Em 2019 ele já tem certas Moscou, Varsóvia e Sol da Meia-noite (Noruega).
VIDA ENDORFÍNICA
Ter uma esposa triatleta que disputa provas do circuito mundial ajuda na hora de deixar a terrinha para fazer esses giros maraturísticos. Sua mulher este ano vai correr a mara de Berlim no mesmo 29 de setembro em que o Nilsão vai para o cascalho nos 42K de Varsóvia.
Ano passado eles já haviam engatado uma agenda convergente que os levou, entre outros lugares, ao Havaí, no fim do ano.
DESAFIOS EXTREMOS
Se não tem, segundo ele, expertise para o triatlo – “minha maior frustração é não nadar”, diz –, Nilsão compensa com algumas doideiras no cascalho. Este ano, antes de alinhar para mais uma edição da mara de Boston, empilhou sete 42K em sete dias consecutivos.
Sete maras em sete dias consecutivos, sublinho.
Em seu giro americano deste ano, foram 10 maratonas em 17 dias.
A MARA MAIS LEGAL
Com 248 maras nas costas, Nilson talvez seja o brasileiro que mais conhece dessas provas pelo mundo. Ele cita Washington DC, a mara Marine Corps, que em 2018 realizou sua 44ª edição, quando perguntado da mais memorável.
Aviões militares fazendo rasante na largada e a passagem da tigrada pelas fotos ampliadas de marines que lutaram nas várias guerras americanas, o que leva a um “silêncio tocante” dos corredores naquele trecho, são alguns destaques da prova, que, segundo o mineiro, sempre inova em suas atrações.
O TREINAMENTO
Mesmo correndo uma mara por semana, Nilson não descura do treinamento. Ele segue o cânone, fazendo duas sessões semanais de 1 hora cada. Uma de ritmo e a outra de intervalado. Se tem mais de um 42K por semana, pode aproveitar essa prova como treino. É o que acontece quando está às vésperas de uma mara que reputa como muito importante, como Boston.
Nesta edição de Boston, aliás, o bicho voou: fez 3:33:51, 15 minutos menos do que em 2018. Além de correr, ao longo da semana Nilson faz pilates e musculação, a última modalidade algo que definitivamente não curte, mas considera imprescindível.
O TÊNIS
Embora tenha tal currículo, Nilson, aos 66 anos, está completamente fora do radar das marcas. Por isso jamais foi contatado pelas grifes esportivas para testar algum produto, e pode falar sobre tênis com total imparcialidade.
Sua preferência há alguns anos é o Hoka One One, a marca americana criada por dois egressos da Salomon, que se caracteriza pelo drop altíssimo (10 centímetros pra cima) e demais de macio – tanto que a pisada tem o que a própria Hoka One One chama, em alusão a essa maciez, de “efeito chantilly”.
Cheguei a usar um Clifton, um dos modelos “maximalistas” da empresa, num teste de 8K. Não foi ruim, mas me senti como se tivesse uma Kangoo Jumps nos pés.
A POBREZA BRASILEIRA
Nilsão é muito diplomático com os organizadores de corrida brasileiros, mas sabe que há uma distância bíblica de qualidade entre as provas tapuias e gringas. Da feira medíocre – vide qualquer evento Yescom, como a recente mara de São Paulo – à falta de hidratação básica, como aconteceu na mara Monumental de Basília, que ele correr sob sol forte, estamos anos-luz das maras internacionais que, segundo ele, sempre procuram inovar na edição seguinte.
Texto muito legal, mas incompleto…rs…
Faltou informar que o homem virou livro e este trabalho pode ser conferido tanto em versão e-book (https://www.amazon.com.br/dp/B07MJP8PK3) como na impressa (https://www.amazon.com/dp/8590719014).