Kangoo Jumps, o veredicto

Paulo Vieira

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Embora seja comercializado na Europa há pelo menos dez anos, é difícil encontrar algo sobre o Kangoo Jumps nas revistas especializadas em corrida. As versões americana, inglesa, espanhola e sul-africana da mais famosa delas, a Runner’s World, ignoram olimpicamente o produto.

Achei uma resenha deslumbrada na Fitness americana, que endossa a principal informação veiculada pelo fabricante: a de que o Kangoo absorve até 80% do impacto da pisada, tornando-o um verdadeiro antídoto contra as lesões das articulações, costumeiras entre corredores.

Mas a resenhista vai além e aduz que o produto tem o condão de queimar até  25% a 50% a mais de calorias do que uma corrida feita com tênis apropriados. A justificativa: “Você luta contra a gravidade e usa a região do core (abdome) para estabilizar o corpo após a pisada”.

Aqui no Brasil seus benefícios são pouco conhecidos. Treinadores de corrida procurados pelo JQC afirmaram não ter conhecimento sobre o produto para se pronunciar.

Eu testei o Kangoo, cuja bota lembra uma de patim, em situações distintas. Numa aula de hopping na Companhia Athletica, academia pioneira de São Paulo, e correndo 12K pelas ruas do Alto de Pinheiros e pelo parque Villa-Lobos.

A aula, comandada pelo alto-astral Edu, lembrava aquelas primeiras sessões de aeróbica dos enlatados americanos que os programas de TV femininos do Brasil exibiam. Tirante eu e professor não havia outros homens na classe. Talvez achemos difícil executar as coreografias – a aula tem um que de cardioaxé, de afroaeróbica, digamos, mas os 45 minutos passam rápido que é uma beleza.

Segundo o Edu, a queima é de 350 a 350 calorias, não mais do que isso.

E, segundo eu, você tem ganhos como dançarino e ainda consegue distensionar o superego.

Para correr, a bota incomoda um pouco. Pesada, te obriga a segurar o ritmo. Admito que eu joguei um pouco na defensiva, evitando dar passadas mais longas. É também exigente com a panturrilha, pois a plataforma requer uma posição de equilíbrio, especialmente quando se está em baixa velocidade. Após uma hora de corrida, a bota começou a ferir a pele da parte lateral interna dos dois pés – e eu estava de meia. Nada, contudo, que um band-aid preventivo não resolva.

Com tudo isso, devo dizer que adorei andar com o Kangoo. Com ele devo ganhar uns 12 a 15 centímetros, batendo próximo dos 2m. Se tivesse pensado nisso, não teria usado cadeiras para escalar a geladeira e acabar com o ninho que as formigas de casa fizeram nos circuitos eletrônicas no topo da imponente Electrolux.

O veredicto: se o Kangoo que eu testei custasse metade dos R$ 1 200 pedidos pela Netshoes, eu bem que ficava com um par para variar um pouco minha série semanal de exercícios. E não seria para proteger minhas articulações, que nunca sofreram com tênis, especialmente com os minimalistas que uso rotineiramente. É que a aula do Edu, para usar uma velha expressão do Angeli, é esteticamente do cacete.

 

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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