O fundador da Run & Fun solta a voz – parte II

Paulo Vieira

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NEM SEMPRE CUMPRO MINHAS PROMESSAS ou pago minhas apostas, como me acusou sem mais aquela outro dia Ricardo Henrique, o Maratonista Desencanado, nosso correspondente no Rio.

Segundo ele, fiquei devendo uma caixa de cerveja por ter apostado, priscas eras, que um disco lançado no Brasil já havia sido comercializado tempos antes.

Detalhe: a aposta foi feita em 1985 ou 1986.

De todo modo: foi mal, Brocador. Vou levar pra você meia dúzia de Ironage, quem sabe tu me perdoas.

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Mas essa aqui não é anacrônica. Semana passada havia prometido a suíte da entrevista com o Marião, o Mario Sergio Andrade Silva, fundador da Run & Fun, maior assessoria esportiva do país.

A primeira parte, em que ele fala dos maratonistas-problema, da memória do corpo, da proporção prazer/esforço, entre outros temas, você lê, ou relê, no link abaixo.

MARIO SERGIO SILVA FALA AO JQC – PARTE 1

A segunda parte começa agora.

MARATONA DE SÃO PAULO

“Nunca recomendo. É uma prova dura pra cacete. Mas a Iguana [que organizou a nova Mara de SP, com patrocínio da Asics] fez direito. Respeitaram o atleta com largada às 6 da manhã [uma hora mais cedo que outra Mara de SP, da Yescom], o local da distribuição do kit também foi legal. Foi uma prova divisora de águas para São Paulo, com cerca de 4 mil concluintes.”

UMA MARATONA PARA O BRASIL CHAMAR DE SUA  

“Não temos. O Rio tem um potencial ferrado, assim como Porto Alegre. Mas é preciso recuar o horário no Rio e tentar fechar algo com o governo, fazer um aproveitamento turístico, uma recepção bacana já no aeroporto, na rodoviária. O Rio tem essa expertise, o que não dá é fazer uma meia maratona, como a Yescom já fez, em setembro, começando às 9h45 [para ajustar horário com a transmissão da Globo]. Nessa prova houve gente tomando soro na minha tenda por conta do calor. Decidi nunca mais montar estrutura lá.”

ESTRATÉGIA DE SOBREVIVÊNCIA

“O que garantiu à Run & Fun chegar [como chegou] a esses 23 anos não vai garantir os próximos. Vivemos um mercado em que éramos pioneiros, e que cresceu e que ainda cresce pois há sempre mais praticantes de corrida. Mas hoje há mais concorrência, algumas assessorias não têm empresa aberta, outras nem mesmo treinador com registro no CREF [Conselho Regional de Educação Física]. Precisamos seguir oferecendo qualidade, a água do treino tem de estar sempre gelada. Também subimos a régua de nossos treinadores, agora com gente formada na USP, com uma segunda língua, que tem muito interesse em continuar aprendendo.” 

MARIO SERGIO E O MURO DOS 30-32K

MARCOS PAULO REIS E A (O) PODER

O USO DO ESPAÇO PÚBLICO

“Tento estabelecer com os parques em que estamos um relacionamento parceiro. No Villa-Lobos, quando me pedem para não colocar os colchões sobre a grama, pois isso pode atrapalhar seu crescimento, acatamos. Já fizemos ali evento gratuito, a pedido da organização. Tornei-me conselheiro-gestor no Ibirapuera, na USP tocamos um projeto social desde 1999. Aos sábados na USP há de 8 mil a 10 mil pessoas levadas pelas assessorias esportivas. É um espaço que já tem o DNA do esporte. Por isso acho difícil que interditem o campus às assessorias, como foi o discurso há cerca de dez anos. Seria interessante que a iniciativa privada entrasse ali, para trazer benfeitorias para todos. Mas esse é um assunto tabu lá.”

A MONTANHA NA CIDADE

“Um dos meus treinadores vinha me dizendo que as corridas de montanha iam pegar, que tinha gente fazendo direito. E pegaram. Com isso, celebramos um acordo com a Selva Aventura, eu trouxe a Selva para a cidade. O Caco [fundador da empresa] trouxe seu pessoal, mas hoje 60% dos alunos do nosso grupo de montanha vem do treino para corrida de rua da Run & Fun. Os maratonistas e praticantes mais experientes percebem que não vão conseguir baixar seus tempos a vida inteira, e na montanha o tempo não é uma referência absoluta. Aqui o trabalho de força é outro, não tem como sugerir para o cara segurar um pouco no começo como numa prova de rua, é preciso entender a altimetria.” 

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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