A São Paulo de Haddad

Paulo Vieira

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Até outro dia eu achava que tinha um bordão sensacional. Com ele eu faria, como por mágica, um post incrível em que desancaria o PT, a Dilma, o Garotinho e quem mais aparecesse. Só livraria a cara do Haddad, afinal sua gestão quixotesca é, acho, digno dos maiores elogios.

E ao falar do Haddad, mencionaria, claro, um cartão de visitas de seu mandato, as ciclovias, que estão pipocando por São Paulo e ajudando gente que usa bicicleta como transporte, ou, para ser mais mala, como “modal”. Tipo eu.

Tendo escrito isso, seria estranho manter o parágrafo abaixo.

Já não bastavam os corredores de ônibus. Agora vagas de estacionamento foram perdidas, conversões à esquerda já não são tão tranquilas, e tudo isso para quê? Para contemplar 3% dos deslocamentos feitos na cidade, em comparação apenas com as viagens de carros e motos.

A São Paulo de Haddad/Reprodução álbum "Jazz", do Queen
A São Paulo de Haddad/Reprodução álbum “Jazz”, do Queen

Poderia jogar este parágrafo para cima, adaptá-lo e diluí-lo num sublead,  mas aí teria de incluir o Haddad na lista de espinafrações.

Seria mais fácil eliminar a informação do 3%.

Tudo isso contando com o risco altíssimo de já ter perdido meu leitor na quinta linha, a julgar pelo tempo médio que ele, que você, dedica ao JQC: 1 minuto por entrada em setembro.

Claro que isso depende do assunto do post. E eu já tentei nudez, sexochocolate, nudez e chocolate juntos, erva, Brizola e nem com isso consegui segurá-lo por muito tempo.

Mas voltemos ao Haddad. Imagine o que o PT federal e a campanha do Padilha pensaram quando o sujeito decidiu botar pra quebrar e diminuir a prerrogativa dos carros em São Paulo. Existe maneira mais rápida de jogar a popularidade no chão nesta cidade? E como bônus detonar um companheiro candidato ao governo?

Se isto fosse uma HQ, o balãozinho em cima do Padilha ao ver o Haddad teria uns símbolos assim: #™£§¶•ª§∞¢¢ˆ¨¥˙ª¶¶§©∂∂ç√∫∫˜≥≤…

E coisas mais pesadas, que eu não encontro neste teclado.

O Lula, já mais paternal, olharia pro “Homem Novo”, como o Haddad era vendido na campanha a prefeito e, na HQ imaginária, menearia a cabeça e sorriria discretamente: “Eu já fui assim”, pensaria entre bolinhas.

Mas o resto do politburo já teria jogado de velho o prefeito ao mar, com requintes de sadismo, no que Nelson Rodrigues estaria certo mais uma vez caso tivesse dito:

A pior forma de solidão é a companhia de um petista.

(Esse era o bordão sensacional, mas como casá-lo com a definição do Garotinho para o PT?)

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O Haddad deu para o Catraca Livre uma entrevista em vídeo pilotada pela colega de JQC Julia Zanolli. É curtinha, muito boa e está aqui.

Hoje já são 143K de ciclovias em São Paulo. Não duvido que o número vai chegar mesmo aos prometidos 400K. O projeto oficial, com dados bacanas sobre poluição e custos de saúde, está aqui.

E como eu decidi olhar umas frases do publicitário Carlito Maia, o inventor do saudoso  oPTei, antes de publicar este post, compartilho algumas com vocês.

Esse cabra sim tinha bordões sensacionais.

São Paulo separa os amigos e junta os inimigos.

Amo São Paulo com todo ódio.

Brasil? fraude explica!

Se o PT não existisse, eu o inventaria.

O PT está dividido entre xiitas e chaatos.

A esquerda, quando começa a contar dinheiro, vira direita.

Tem várias outras, todas muito boas, aqui.

Tudo isso me fez pensar neste clássico:

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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