Quanto mais treinamos, mais queremos empurrar o limite. Bem, esse não é um axioma universal, mas se aplica a muita gente. É comuníssimo o sujeito achar que pode suportar cargas e treinos de intensidade cada vez maiores.
Nosso Touro Indomável, cujos resultados na balança e performances de seu treino funcional conquistaram corações e mentes pelo Brasil e quiçá alhures, foi vítima dessa ambição, dessa loucura, viu-se também ele rapidamente enfeitiçado pelo canto mavioso da endorfina.
E beijou a lona.
Ele explica.
O futebol, ah o futebol… No dia seguinte ao soçáite, disputado nesses dias em que chovem cães e gatos, fui trabalhar com dores no corpo e me sentindo cansado. Vinha do Carnaval, depois treino funcional com duas sessões como esta, e finalmente o futebol sob chuva. Teria um dia para descansar antes de voltar para Guantánamo.
Aliás, esse é o “pace” pretendido: duas vezes por semana de treino funcional com o Professô Veron e uma noite na grama sintética com os amici e a cerveja.
Só que, parceiro, eu ainda preciso comer muito feijão…
Após o futebol vivi dias daqueles que a gente não tem disposição pra nada, apenas para o chocolate quente da vovó, feito sob medida para essas ocasiões. Só que não havia vovó nem chocolate quente. Sob um sol só pra mim, eu acompanhava uma sessão de fotos de carros para a Quatro Rodas no interior paulista. E recebi o primeiro sinal.
Ao voltar ao escritório da locadora de automóveis, perdi as forças e desabei no sofá.
Naquela noite, já em casa, tive febre alta e calafrios. Fui ao hospital Santa Paula dois dias depois. Não tinha sintoma algum, apenas a febre que não cedia.
No PS, travei o seguinte diálogo com o médico:
– Tudo bom, doutor? Estou há três dias com febre, começou após umas dores no corpo, aquelas que, acho, vêm com a gripe.
– Uhum.
– Na primeira crise, fui pra casa, tomei banho e um antitérmico, dormi, mas acordei e a febre não passou até agora. E não tem outro sintoma, garganta, urina…
– Vamos investigar com hemograma, exame de urina e um raio-x do pulmão. Enquanto os exames são feitos, você toma um soro para hidratar.
Eu tinha acabado de tomar um litro de isotônico.
Sangue e urina estavam ok, mas na hora de interpretar o resultado do raio-x, enviado por e-mail ao médico, um mineirinho que vive dentro do sujeito de roupa branca disse:
– Tô vendo um trem aqui.
– Um trem? Tipo, um tumor?
Ele riu.
– Ainda não. Dessa vez é o que parece ser uma pneumonia. Os reflexos dela deveriam ter aparecido no hemograma, mas não apareceram.
Foi a minha vez de falar “uhum”.
No domingo, com o antibiótico receitado, a coisa começou a melhorar. Sem febre, aproveitei o dia seguinte para ir visitar um pneumologista que é velho amigo da minha família, o Dr. Pretel, que atende em Ribeirão Pires.
– Cara, você tá com uma puta pneumonia, disse ele, sem mais aquela.
Elogiou o médico que me atendeu no Santa Paula e finalmente me prescreveu uma “cana” de sete dias, prisão domiciliar que cumpro enquanto meus colegas da Quatro Rodas comem o pão que o diabo amassou no fechamento, justamente nesta semana. Doc Pretel também receitou inalações com Berotek, que acelera o coração de leve, e um xarope.
Com isso, vou ficar mais velhaco para a alimentação, que foi como Deus (eu, na verdade) quis durante todas estas semanas de Guantánamo. Vamos ver se o Veron vai pegar leve na minha volta, semana que vem.
Moral da história: quem nunca come mel quando come se lambuza. Ou esta: nem tanto ao céu, nem tanto à terra.
É por isso que a temperança e a prudência são as tais virtudes cardeais de que falava o filósofo, Aristóteles, se não me engano.
Vou ver o que o Veron acha disso.