Correr é mais fácil do que você pensa

Paulo Vieira

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ENTRO NOS GRUPOS DE corrida do Facebook naipe “Amantes da Corrida” ou “Corredores do Brasil” e vejo dezenas de perguntas cândidas e, suponho, sinceras.

Usam até fundos coloridos e corpos de letra espessos para perguntar coisas como “Qual é o melhor app pra corrida?”, “Que tênis devo usar?”, “Qual é o melhor anti-inflamatório para fascite plantar?”

Iniciantes pedem dicas de quilometragem, sem aparentemente ter a menor ideia do que vem pela frente.

Há também os que reportam dores aqui e ali, e se preocupam com a sequência que terão – ou não – no cascalho.

O conjunto dessas questões faz crer que corrida é um exercício que exige muita atenção, orientação adequada, equipamentos especializados.

Embora seja fundamental saber auscultar o coração, seja fazendo consultas regulares ao cardiologista ou médico do esporte, seja evitando esforços de grande intensidade, a corrida é um movimento natural do ser humano, não exige grande ciência.

Sobre tênis, minha recomendação é: quanto menos amortecimento, melhor.

Sobre as dores – devo ser um afortunado por não senti-las após tantos anos de cascalho –, fortalecimento muscular com exercícios funcionais ou musculação costumam dar conta do recado.

E sobre métodos de treinamento, há os mais variados, ainda que haja um certo cânone que prega variação de ritmos e pelo menos uma dia por semana de intervalado – os famosos “tiros”.

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É sabido que o homem tem capacidade de suportar atividade física contínua, como a corrida, desde que ela não seja feita com grande exigência cardiovascular.

Não é por acaso que há uma enorme legião de ultramaratonistas no Brasil e no mundo formada por gente que há muito tempo dobrou o cabo das Tormentas.

NILSON LIMA E SUAS 230 CORRIDAS

LULA HOLANDA, O HOMEM QUE CRIOU O MAIOR GRUPO DE CORRIDA DO BRASIL

QUER CORRER? ENTÃO TRATE DE GOSTAR DE CORRER

Pra ficar num único exemplo, Nilson Lima, tão frequente nestas páginas, fez em 2018 47 maratonas e seis ultras, sendo estas quatro de 50K, um 90K – a Comrades – e um 100K.  Ele tem 65 anos.

Nilson começou a correr aos 45 anos exatamente como você, provinhas de 5K, se tanto.

Há outros sessentões com estatísticas parecidas. Como o pernambucano Lula Holanda, criador do maior grupo de corrida do Brasil, o Acorja, do Recife. Lula faz 65 anos em 2019 e celebra com a centésima mara de sua vida, a maratona das Praias, que ele e os compadres da Acorja organizam.

O jornalista americano Christopher McDougall, autor do best seller Nascido para Correr, deu provas cabais nesse livro – e em outros que escreveu – que o homem é uma das raras espécies animais que tem a capacidade natural de correr longas distâncias.

Tudo isso para dizer: se você gosta do cascalho, não é preciso muita sabedoria para seguir em frente.

O importante é, como já disse há priscas eras, começar do começo: GOSTAR de correr.

Foto da home: Daniel Guimarães/Flickr

 

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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