DIZ A CIÊNCIA QUE PARTE DA MEMÓRIA de nossas experiências traumáticas é apagada.
O processo, pode-se inferir, é mais uma demonstração da perfeição da máquina que habitamos – a despeito do apêndice. Ele acontece por amor de seguirmos em frente, alive and kicking.
Ignora-se quanto tempo o radialista Ricardo Capriotti vai precisar para esquecer o que lhe aconteceu ao final de sua primeira maratona, corrida em 2013, mas, a julgar pelo pressuposto do parágrafo anterior, um dia isso, ao menos em parte, acontece.

Capri chegou mal ao final daquela prova, disputada sob bastante calor em Buenos Aires. “Ao cruzar a linha de chegada precisei de ajuda na tenda médica, acabei desacordado e com um quadro de desidratação”, ele disse em seu blog, o Caprirun.
Corta para domingo passado, Buenos Aires outra vez.
Com uma segunda maratona bem menos traumática, Nova York, no currículo, ele alinhou em Belgrano com outras ambições: não só terminar os 42K bem, mas tornar-se um sub 3h30.
Se desse, quem sabe, fazer ainda o almejado índice para a mara de Boston, fetiche dos fetiches do fetichista-mor, o maratonista.
ESPECIAL BUENOS AIRES – ENTREVISTAS SUADAS
ESPECIAL BUENOS AIRES – ÀS VEZES O QUE DÁ PARA CORRER É O QUE DÁ PARA CORRER
MARATONA, O FETICHE
RICARDO CAPRIOTTI NO JQC
Deu tudo certo, ou quase, como ele explica muito melhor no blog supracitado. Tem uma história sobre medo – medo que o acometeu na antevéspera da corrida –, que vale, aliás, muito a pena conhecer. Não faço mais teasers. Passem lá.
Capri falou com o JQC sobre a mara de Buenos Aires.
JORNALISTAS QUE CORREM – Você foi correr Buenos Aires este ano com certo espírito de ajuste de contas com a experiência traumática de 2013. Se sentisse algum problema físico importante no domingo, pensaria em desistir?
RICARDO CAPRIOTTI – É difícil falar em tese, mas se eu sentisse o mesmo que senti em 2013, iria parar. Acho que corri um risco muito sério daquela vez, fiz bobagem, coloquei minha vida em risco. Ali era uma combinação traumática: muito calor e os trinta dias anteriores sem correr por conta de lesão [fratura por estresse no pé esquerdo].
JQC – Tendo concluído bem a prova, acabou a história com Buenos Aires? O que vem por aí?
CAPRIOTTI – Sim, Buenos Aires agora está resolvido, pode ser que até volte a correr ali um dia, mas não é prioridade. Talvez eu venha a fazer maratonas mais rápidas para tentar índice para Boston, mas não sei se corro os 42K em 2018. É ano de Copa do Mundo, preciso ver como as coisas ficam aqui na rádio [Band].
JQC – Até quando imagina poder conseguir baixar suas marcas?
CAPRIOTTI – Faço 51 anos agora, no próximo domingo, dia 22. Essa é uma pergunta dura, porque não sei até quando vou conseguir conciliar treino e trabalho e até quando meu corpo vai responder bem ao estímulo de treinamento, sem dor, sem lesão. Acho que é possível por mais alguns anos, mas a gente pode tomar uma cacetada na vida, perder emprego, nunca se sabe. Além disso, eu quero poder correr lá na frente, e para ter longevidade é preciso pensar muito antes de colocar o corpo no limite.