MOREI ALGUNS MESES fora do país em 1999. Na capital daquela grande ilha naquele tempo ainda não havia o sistema de compartilhamento de bicicletas que anos depois viria a ser implantado. Tampouco a grande malha cicloviária.
Essas ausências não me inibiram, contudo, a visitar uma feira, uma espécie de mercado de pulgas que ocorre todos os domingos perto do famoso Centro Barbican. Ali comprei uma bicicleta, meu “modal” pelas semanas seguintes.
Passei-a para a frente antes de voltar para o Brasil, e não encostei mais num selim por muitos anos.
É curioso pensar que, olhando para trás, eu não via possibilidade alguma de pedalar em São Paulo no começo dos anos 2000. Sempre tive moto, é importante dizer, mas, mais do que isso, parecia a mim haver uma incompatibilidade total entre bicicleta e São Paulo, SP.
Aqueles meses de Londres foram uma espécie, quem sabe, de exílio cicloviário.
CARROS X BIKES X SKATE X ÔNIBUS
AUMENTA O PACE QUE ISSO É BICICLETA
Estranho é que essa incompatibilidade não existia na minha adolescência, quando ia ao trabalho, nos Jardins, de bike. São Paulo sempre teve topografia exigente – conhece a rua Paris? –, mas o raciocínio vigente, indiscutível, era pensar que da bicicleta se passava para outro veículo: ciclomotor, 125cc, XL etc.
Quase uma escala ontológica em que o indivíduo com 100% de ser seria o carro.
Desde 2011 ou 2012 adotei de novo a bicicleta. A preguiça de consertar a moto ganhou um álibi.
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Conto essa pequena história para dizer que hoje é muito satisfatório e razoavelmente seguro se deslocar de bicicleta.
E que, se não era tão seguro naquele tempo, também não era impossível. Mas havia uma ideologia reinante, mais pesada, a impedir que a bicicleta fosse mais presente nas nossas vidas.
Hoje, com a malha cicloviária dá para ir para muitos lugares da cidade. O principal problema é a falta de um chuveiro no trampo ou nos cafés com wi-fi em que hoje defendemos o puro malte de cada dia.
Tudo isso para dizer que neste Dia mundial sem carro, até mesmo montadoras estão tentando surfar na onda. A sueca Volvo abriu seu showroom na tenebrosa avenida Europa, em São Paulo, para celebrar o pedal com grupos de bikers.
Tem agito ao longo da tarde e no começo da noite.
Marketing? Oportunismo?
O vídeo abaixo tenta explicar.
Tire suas próprias conclusões.