Num pingue-pongue lá dos primórdios do JQC, o jornalista Sergio Xavier, a caminho então de sua oitava maratona, disse a pixels tantos: “A maratona é uma provinha de 12K. Tudo o que interessa é o que se faz dos 30 aos 42. Os primeiros 30K são só o caminho para se chegar à ‘prova’”.
Lembro de ter achado a resposta mais uma de suas boas frases de efeito. Pois agora me dou conta que era bem mais do que isso. Como sabem alguns que me seguem, faço em certos domingos minha provinha particular Lapa-Pico do Jaraguá-Lapa. Embora esse percurso tenha um quê de libertário – um toque Cunha & Bolaño -, ele tem servido para testar minha capacidade em atropelar quilômetros.
Ontem, mais uma vez, desejei atropelar pelo menos 35K, mas fiquei na miserável marca dos 30K.
Ao passar pela rodoviária clandestina do Bar do Gago, na Vila Anastácio, exatamente quando o Garmin acusou 30K, joguei a toalha.
Ou seja, renunciei à “prova”.
Eu sei: não era uma maratona oficial, dessas com inscrição, camiseta, chip, espectadores e, mais importante, postos de hidratação e de repositor de carboidrato. E tinha, claro, uma subida matadora de 4,5K até o Pico em sua primeira metade.
Mas mesmo assim não sei se vai dar não.
De 30K pra 42K falta muito.
Kauana Araujo, cuja segunda maratona se avizinha e cuja preparação algo sofrida a gente vem acompanhando, disse que contou com um “puxador” no 35K para terminar sua primeira maratona. “Combinei com o Fabio, um amigo de 20 anos que já é Iron Man, me puxar.”
Ela diz também ter “rezado muito” ao chegar naquela parte da prova.
Os 7K finais foram mais rápidos do que seu pace nos primeiros 21K. “Usei uma estratégia de começar a acelerar a partir da meia.”
Chico Barbosa, que este ano terminou a Maratona de Santiago, também concorda. “Quem treina para a maratona vai suave até os 30K, depois é o abismo. Até os 30K o cansaço vem aos poucos, depois é um colapso. Isso é uma percepção geral, não só minha.”
Gesu Bambino, que participou de uma única maratona, a de Nova York, conta que para completá-la precisou “negociar mentalmente” consigo mesmo. Conta que até os 30K foi um “passeio”. “É a distância que se treina”. A partir daí começou a sentir o desgaste físico. Mas ele tinha um objetivo: chegar aos 35K, onde encontraria o treinador e as “batatas”.
Batatas aqui não são metafóricas, mas literais. O 35K era o ponto combinado para ele comer uma batata assada, importante repositor de carboidrato. “Ela deu um gás bom por mais dois quilômetros, mas aí veio uma subida leve e foi duro. Duro, não um martírio.”
“Mas aí voltei a ficar só, e precisei negociar cada metro com meu corpo até chegar ao Central Park, no 40K, e aí a multidão te leva.”
Ontem, mais uma vez, comecei a corrida achando que na hora de voltar poderia tranquilamente acrescentar variantes ao itinerário, quem sabe depois de alcançar a Lapa dar uma esticada à USP, sempre deliciosamente deserta aos domingos. Pois novamente não consegui chegar correndo à padaria do Manoel, que seria mais ou menos o 33,5K, minha RunBase.
O que estará faltando?
Para saber mais sobre o tema, leia esta entrevista que Mario Sergio Silva, da Run e Fun, deu ao JQC.
Nada!
Vc esta pronto!
Esta luta, no dia, vai ser so sua, negociando com seus demônios!