CORRER EM SUPERFÍCIES INSTÁVEIS ATIVA ÁREAS normalmente não muito utilizadas numa corrida straight. O sujeito que sai do asfalto e encara a terra – ou mesmo a grama – já colhe alguns benefícios da chamada propriocepção – nome meio complicado para consciência corporal.
Apesar de atacar o cascalho 3 a 4 vezes por semana, cinco numa semana excepcional, aprendi que não faz qualquer sentido apenas correr. Funcional, ioga, natação, pilates, até mesmo uma musculação são complementos necessários. Eu diria mesmo indispensáveis.
De qualquer forma, evito o asfalto até onde é possível, mas ficar a dar voltas no círculo externo do parque Villa-Lobos (4K cada) ou no bosque da USP (1K, com altos e baixos) testa o “psicológico”.
(Sim, choro de barriga cheia: o Rosan Felipe @corre_r10 deu quase 60 voltas em torno de um lago de Campinas para perfazer 150K; e o pessoal da corrida Sri Chinmoy Self-Trancendence passa quase dois meses seguidos correndo em volta de um quarteirão do Queens de menos de 1K. São 5649 voltas para quase 5 000K.)
Vai vendo.
A BBC Sport falou dessa doideira do Queens aqui e o grande repórter Guilherme Roseguini mostrou a treta ontem no Fantástico – veja aqui).
Entrando no assunto. Ontem, em Campos do Jordão, fiz um cascalho de três horas, boa parte dele pela linha do trem da companhia Estrada de Ferro Campos do Jordão (EFCJ) rumo à vizinha cidade de Santo Antônio do Pinhal.
O trecho de ida teve cerca de 13K; a volta, o mesmo tanto, mas arreguei na subida: metade desses 13K de retorno foi na caminhada.
Infelizmente, o trem não realiza mais esse percurso turístico, mas os dormentes estão em ordem, na minha avaliação bastante leviana de próprios ferroviários.
Durante boa parte do trajeto há singletracks nas laterais do trilho. Mas por uns 3K ou mais foi preciso correr dentro deles, ou seja, pisando sobre os dormentes de madeira. Dava para pisar também nas pedras, mas meu Kenya Racer 4 não é exatamente uma bota Timberland.
CORRENDO NOS TRILHOS URBANOS
TREINO MENTAL COM AS ESTAÇÕES DE TREM
RECUERDOS DA MANTIQUEIRA
O cascalho começou na estrada do Toriba, bem ao lado da araucária solitária do hotel Moinho Itália. De lá até a fazendinha Toriba são 3,6K da mais ortodoxa subida, algo que é melhor resolver logo no começo da sessão, com sol ainda baixo.
A partir daí a subida dá lugar a áreas planas e descidas. Devo ter vencido os 13K em hora e meia, o que parece muito para a distância agora, mas, acredite, o tempo passou num átimo – e certamente a concentração para vencer os trilhos tem a ver com isso.
A distância entre os dormentes é curta, talvez meio metro, e isso exigia encurtar bastante o passo para algo como o pace tartaruga ninja patenteado por Carlos Dias. Às vezes pulava-os de dois em dois, mas aí o risco de uma pisada na pedra aumentava consideravelmente.
Houve paradas para fotografar a bela arquitetura ferroviária ainda bem preservada, como desse apeadeiro abaixo. A Pedra do Baú também apareceu num relance no trecho de volta.
O ponto de retorno foi a ponte em que os trilhos da EFCJ passam a cerca de 4 metros de altura. Abaixo, a movimentada SP-123, a principal estrada de ligação entre a rodovia Dutra e Campos do Jordão. Um suco de milho de 6 pratas na estrada bem ao lado dessa ponte facultou-me a aguardadíssima visita ao banheiro.
Há muitos ciclistas que se utilizam da SP-123 para fazer seus treinos de subida, mas é prudente evitá-la. O movimento de carros e motos não apenas envolve riscos físicos consideráveis, mas incômodos. O barulho é extremamente agressivo.
Eu aqui esperando pela popularização do carro elétrico.
Ao lado dos trilhos corre a mesma estradinha que vem lá do hotel Toriba. Ela desemboca na 123 um pouco acima da fazenda Renópolis e desse ponto até a araucária solitária do Moinho Itália são cerca de 8K. Prefira-a.
Erramos, como sói acontecer (de vez em quando): na versão original deste mal-traçado escrevi três vezes “batentes” no lugar de dormentes. Léo Feltran chamou-me gentilmente a atenção. Perdão.