Um biólogo entre nós

Paulo Vieira

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Eu sempre desejei correr ao lado de um biólogo, um geólogo ou, vá lá, um agrônomo, para, digamos, numa trilha na Mata Atlântica que acaba numa área de reflorestamento, o cara dizer: “Aqui tinha muito jequitibá rosa, mas agora só há esses pinheiros e eucaliptos” . Na verdade, preferia que ele dissesse o contrário, que só sobraram os jequitibás rosa, mas estou a me desviar do assunto.

José Manoel Martins, o Zé, é professor de biologia do colégio Oswald de Andrade, de São Paulo, casualmente o colégio das minhas filhas. A Marli, amiga comum, ex-professora de geografia de lá, nos apresentou. Nunca corri com ele – ainda fico com a robofoot mais algumas semanas -, mas ele me adiantou o que o move além da biologia.

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Comecei a correr em 1989 junto com um professor amigo já falecido. Corríamos sem muita organização, não existiam planilhas, no dia decidíamos como iriam ser as corridas. Depois parei, fui pro futebol, meu joelho começou a doer, a velha história.

Parei com tudo.

Em 2003 voltei a correr, em setembro completei 10K para 54′ e depois fiz minha primeira São Silvestre. O vírus da corrida me pegou ali. Em abril de 2006 fiz minha primeira Volta à Ilha, em Florianópolis, quando corri em asfalto, terra e na areia fofa da praia de Joaquina. Ali me apaixonei pelo “off-road”. Mas eu só fui fazer corridas de montanha em 2012.

A vontade de correr “no mato” sempre existiu, fazia alguns treinos em parques, como o Bosque do Morumbi e suas desafiadoras subidas, mas evitava as provas por temer lesões.

Logo na primeira corrida, em Mairiporã, fui o primeiro da categoria e sexto na geral, e isso me incentivou a desobedecer meu treinador, que preferia me ver em no máximo quatro provas de montanha por ano – fiz logo 11. Em 2013 foram mais 13 provas de montanha e algumas em asfalto, ou para treinar ou para acompanhar alguém.

Este ano já foram 11 provas na montanha, incluindo o circuito carioca, e nenhuma no asfalto – já bastam os treinos, que são nesse terreno pela questão logística.

Zé Manoel em Mogi das Cruzes
Zé Manoel em Mogi das Cruzes

Para mim, as corridas são uma válvula de escape, ainda mais quando fora de São Paulo, fazem bem demais. Os lugares são lindos, conheço pessoas fantásticas e volto sempre com boas estórias. Pelo jeito, enquanto o corpo permitir, subirei essas montanhas. Somo até agora 150 corridas, 35 em montanha.

A PREPARAÇÃO

Para correr em montanha, fortaleci a musculatura das pernas com exercícios funcionais. Também desenvolvi o equilíbrio, muito exigido no trail. Comprei um tênis adequado, pois faz a maior diferença um tênis que não escorregue tanto e que dê mais tração. (Nota do editor: infelizmente, aprendi a lição um pouco tarde). Para evitar cortes e escoriações uso meias de compressão que vão até os joelhos e manguitos nos braços. Já usei mochilas de água nas costas, mas agora prefiro um cinto, as garrafinhas ficam presas com velcro e não ficam tão pesadas.

A DOR

Enfrentei várias lesões pequenas, mas duas me tiraram dos treinos por um bom tempo. A primeira foi em 2006, na Serra da Graciosa, perto de Curitiba, prova que começa no plano, mas depois tem uma subida de 15K e finaliza, já no planalto, com 3K de subidas e descidas rápidas. Subi bem, mas ao chegar na primeira descida decidi “tirar o atraso”. Inexperiência total. Quase não terminei, cheguei trotando e com o joelho direito inchado. Diagnóstico: condromalácia patelar. Fiquei parado por uns três meses e voltei aos poucos, fazendo fortalecimento e “ouvindo” os joelhos. Hoje não desço forte e uso gelo depois de treinos mais fortes e provas.

Também tive tendinite na parte inferior dos dedos do pé esquerdo. Não sei como ela chegou, sei que precisei reduzir o impacto e parar de correr. Voltei a nadar e pedalar, mas não era a mesma coisa. Foram nove (!) meses de abstinência. Na verdade, essa também é uma lesão que vou levando, ela não se curou. Trato ambas as lesões com bom senso, fortalecimento, alongamento e acupuntura.

OS BIOMAS

Eu já conhecia os biomas brasileiros antes de correr, então a corrida não me “aparelhou”. Mas eu indico lugares para ver a Mata Atlântica: em São Paulo, as provas de Mairiporã, São Sebastião (que passa dentro de rios), Paranapiacaba,  Campos do Jordão e Santo Antônio do Pinhal (com matas de araucária) e Atibaia (pela vista maravilhosa do final). No Rio, Penedo e Visconde de Mauá, com Mata Atlântica de altitude, são muito bonitas. Para conhecer o cerrado, campos rupestres e um pouco de caatinga, vale fazer a  Maratona de Igatu (Chapada Diamantina).

 

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

2 Comentários

  1. Avatar
    Pedro Northon Nobile

    Olá, Paulo. Por acaso achei seu post quando procurava por “Corridas de montanha” e “condromalácia patelar”. Sou um apaixonado pelas corridas de montanha e também fui diagnosticado com condromalácia patelar. Gostaria de saber como você conduz seus treinos e se ainda consegue controlar a lesão. Abraços.

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    • Paulo Vieira
      Paulo Vieira

      Fale com o próprio autor do post que você encontrou aqui no site, Pedro. É nosso querido Zé Manuel, o biólogo intrépido. Ele espera teu e-mail no professor.tricolor@gmail.com

      Responder

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