Janaína Lepri, da TV Globo, e sua estreia na mara de Chicago

Paulo Vieira

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A PRIMEIRA MARATONA a gente nunca esquece, e Janaína Lepri, repórter da TV Globo de São Paulo, não tem razão alguma para esquecer qualquer minuto de sua estreia nos 42K, em Chicago, no último 8 de outubro.

Embora quisesse ter feito um tempo melhor que seus 4:35:18, ela conseguiu, como ensina o ficcionista japonês Haruki Murakami em seu livro Do que eu falo quando eu falo de corrida, não andar em momento algum da prova.

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Mas esse não foi seu principal feito. Ao completar a mítica distância, ela deixou definitivamente para trás um quadro de depressão que a tirou por quase 1 ano e meio da TV em 2010.

Seu terapeuta, também triatleta, incentivou-a a seguir correndo – algo que ela fazia havia cerca de três anos, desde os tempos em que trabalhava na rádio Bandeirantes. 

Jana does Chicago/Foto Arquivo Pessoal
Jana does Chicago/Arquivo Pessoal

Voltemos ao começo, então. Janaína sempre nadou, mas o fato de a Band decidir montar uma equipe para correr um revezamento Pão de Açúcar, prova que a emissora cobria com especial interesse, a levou ao cascalho. 

Por nadar, achava que tiraria de letra. “No primeiro treino, corri 1,5K e quase morri”, contou por telefone ao JQC.

De lá para cá ela foi acertando seu ritmo. Vieram as provas de 5K, 10K (recorde pessoal: 58′) e as meias (recorde pessoal: 2:03). Ano passado, depois de concluir uma meia, ela decidiu “sem querer muito” tentar o sorteio para Chicago.

Deu bom, e aí ela, que jeito, se sentiu obrigada a correr a maratona.

Para tanto, ao mesmo tempo que seguia o cânone – ciclo de quatro meses, um longão de 32K etc. – com a Run & Fun, fez uma abordagem inovadora na academia Competition.

Era um método de performance que se utilizava de treinos de intensidade e força com o fito de fatigar a musculatura da repórter e ajudá-la a se prevenir de lesões.

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Chicago é uma prova plana e rápida, além de ser uma das seis “majors”, algo que ela tinha vontade de fazer uma vez na vida. O que ela não esperava é que a Windy City a recebesse com um clima equatorial – segundo a repórter, perto dos 30 Celsius ao fim da mara.

“Tinha meta de fazer a prova em 4:20, 4:30, e na passagem da meia tava tudo certinho. Mas no 35K, quando já não tinha nenhuma sombra, fiquei frustradíssima [com o tempo]. Mas meu treinador disse que todo mundo tava passando ‘alto’ e que não era para eu me preocupar com o relógio.”

Uma entre os mais de 900 brazucas da prova/Arquivo Pessoal
Uma dos 900 brazucas da prova
A PRÓXIMA MARA

Como acontece com dez entre dez novos maratonistas, Janaína já pensa na próxima mara. “Talvez Nova York, mas acho que a inscrição [de 15 de janeiro a 15 de fevereiro] vai ser muito concorrida”.

Seja como for, ela não pretende cometer “erros de principiante”, como ter ido ao banheiro apenas uma vez, muito antes da largada. “Tive de parar, e perdi uns cinco minutos que não consegui recuperar”.

É difícil imaginar que uma repórter de TV, com agenda pesada, tenha condições de treinar com disciplina. E ela, de fato, teve de sacrificar horas de sono para fazê-lo.

“Na Globo a gente só fica sabendo como vai ser o dia seguinte na noite anterior. Cheguei a ir dormir às 2 da manhã e acordar às 5h30 para treinar. Tinha um milhão de desculpas para não ir, mas ia. Sobrecarreguei um pouco.”

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Janaína é filha de pai jornalista, mas ele não teve qualquer influência na decisão de sua carreira. Ela conta sempre ter desejado ser médica, mas algo a fez mudar de ideia a dias do vestibular.

Acabou entrando na universidade Metodista, que, segundo ela, era “bem cotada no ranking da Playboy” – o editor deste pasquim nos anos 1990, que isto fique entre nós, ajudou a produzir um ou dois deles.

Mas as dúvidas profissionais a acompanharam até o terceiro ano de faculdade, quando ela chegou a pensar em largá-la. O convite para cobrir férias de um jornalista na rádio Eldorado teve, contudo, o condão de mudar tudo.

Na SP City, fazendo seu longão para Chicago
Na SP City, fazendo seu longão para Chicago/Instagram

A cobertura de um rompimento de uma adutora e a consequente formação de um enorme buraco na rua – o arquétipo do arquétipo do trabalho do repórter de geral – a cativou definitivamente para o nosso combalido ofício.

Hoje, como os demais repórteres de sua divisão, ela faz de tudo na Globo –  economia, cultura, geral –, menos esportes.

Tem, é verdade, andado menos de helicóptero, uma das razões que a levaram a ser contratada pela Vênus Platinada.

“Na época não eram muitos os repórteres que se davam bem em helicóptero, muitos enjoavam, e eu estava acostumada a fazer isso na rádio Bandeirantes e no [finado] canal de TV 21.”

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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