(Continuação deste post publicado em 15.1.2014)
Quantas derrotas são necessárias para construir uma única vitória? Ou, neste caso, de quantas vitórias eu precisava para torpedear a minha acachapante derrota? Sim, pois eu já dava de barato que não encontraria o Murakami – pelo menos não esse Murakami que inventou, em “1Q84”, duas luas no céu de Tóquio – luas que eu tampouco vi.
Meu tempo na capital japonesa passava e eu me via imerso em afazeres distintos: reservar o tíquete de trem para Quioto, comer bem, conhecer um desses cafés com gatos que ilustram certo caráter japonês, às vezes dormir. Quando tentava comer pelas beiradas, ou seja, quando procurava uma locação citada em um livro qualquer do Murakami, naufragava.
Na tola esperança de farejar os vestígios do autor, me dirigi, por exemplo, ao Nakamuraya Café, em Shibuia. Mas quem disse que encontraria o lugar? Mesmo citado nos Trip Advisor e Time Out regulamentares, o máximo que consegui achar foi uma unidade de um café-lolita, local em que garçonetes fantasiadas de adolescentes fazem festinhas com os clientes, trazem velinhas para que façamos desejos e batem uma Polaroid conosco.
Assim, decidi radicalizar e, lembrando do que imaginava ser uma lição zen, procurei limpar minha mente de tudo o que minimamente evocasse Murakami. Era uma maneira de tentar, por vias tortas, encontrá-lo.
Nada de pensar em Nakamuraya, duas luas, Dolphin Hotel, Eric Clapton, “Sinfonietta”, Mizuno. Relaxei nas termas – uma hiper high tec, ao lado do estádio de beisebol, outra mais do que paroquial (ainda que numa comuníssima terça-feira admitisse minha entrada e a da Tomoko à 1h15 da madrugada). Andei de bicicleta em meio ao silêncio dos cemitérios e templos xintoístas do lindo bairro de Yanaka. Comi teishokus e unagis. Visitei até um pequeno Museu do Futebol onde, como único feature do País do Futebol, encontrei uma camisa do… Avaí, time da minha mulher e dos meus sogros (mais detalhes aqui).
Enfim, a estratégia não deu certo. Murakami não apareceu nem em vigília nem em sonho, nem misturado à multidão em Akihabara nem fantasiado como superheroi a caminhar por Harajuku.
Mas quem não tem cão caça com gato.
Antes mesmo de viajar ao Japão eu fui falar com este Murakami, colunista da revista “Brasileiros” e chef e sócio do badalado restaurante Kinoshita, ao lado do Parque Ibirapuera.
Um Murakami que conjuga o tu na terceira pessoa e lembra vagamente aquele cunhado a quem você reluta em emprestar dinheiro, mas ainda assim um Murakami.
Como ensina o “Tao Te King”, aquilo que se quer encontrar muitas vezes é aquilo que já foi encontrado.