A natação a serviço da corrida

Paulo Vieira

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ANDO MARAVILHADO COM a horinha de piscina diária no Cepê, o Centro de Práticas Esportivas da USP. Nadar é a coisa mais antiga do mundo, talvez só perca para a definição de que se trata do esporte mais completo que existe.

Coisa, aliás, que o doutor Nabil Ghorayeb discorda por razões de saúde pública. Se o sujeito tem um piripaque na água, sustenta ele, ninguém vê.

O RISCO DO CROSSFIT E OUTRAS CONVERSAS DO CORAÇÃO COM O CARDIOLOGISTA NABIL GHORAYEB

Mas eu nunca em muitas décadas de carregação deste surrado esqueleto pela Terra tinha feito dentro d’água algo que fiz outro dia: o bom e velho tiro.

EVENCIO: É PRECISO DAR LOGO UNS TIROS

Foram apenas seis de 25 metros – o professor teve o bom senso de não usar a piscina olímpica.

UMA RECEITA DE HIIT

Suficientes para eu sentir um esforço cardiorrespiratório que não sinto desde um maluco teste espirométrico feito nos porões do HC com aquela máscara do pânico.

PÂNICO NA ESTEIRA

Fiquei pensando se a natação teria efeito salutar para a corrida. O tema é polêmico. Mario Sergio Silva, educador físico, fundador e proprietário da assessoria esportiva Run & Fun, foi nadador profissional e também compartilha a impressão.

Mas disse que a hipótese nunca foi sustentada por seus colegas teóricos e pela “bibliografia”.

MARIO SERGIO SILVA E O MURO DOS 30K

Ele falou com o JQC sobre o assunto.

JQC – Como nadar pode ajudar o corredor?

MARIO SERGIO SILVA – Nadava 7K por dia e via que a natação ajudava bastante a melhorar minha performance de corrida. Se treinava bem na água, ficava bem mais fácil de atingir os meus limiares anaeróbios, me sentia bem. Mas na bibliografia esportiva o que se tem, basicamente, é que natação cansa. Meus colegas com pós-doutorado também nunca foram adeptos de fazer o corredor tacar porrada na água.

JQC – O corredor não deve nadar, então?

SILVA – A natação é recomendada para relaxamento muscular. Se o esportista nadar leve em dias alternados aos dias de treinos de corrida, se não fizer na água grandes distâncias ou tiros, ela ajuda na recuperação ativa, especialmente nas semanas de regeneração.

Há outro ponto interessante. Se o corredor vem de lesão, acredito que a natação e a bicicleta podem ser de grande auxílio para minorar a perda de condicionamento físico. Defendo que o sujeito nade para não perder condicionamento cardiovascular.

JQC – Me parece que há grupos musculares que são utilizados na natação, mas não na corrida, e ativá-los deve ser boa ideia. Quando se bate perna no nado de costas, por exemplo.

SILVA – É verdade. Movimentos de perna dos estilos crawl e costas auxiliam na mobilidade do pé e do tornozelo, além de fortalecer músculos auxiliares. O nado de costas relaxa o quadril, a batida de perna do crawl relaxa o bíceps femural.  

JQC – E a situação contrária? Como a corrida pode ajudar o nadador?

SILVA – A corrida é muito usada antes de se entrar na água ou no trabalho de base e pré-base para dar mais força aos membros inferiores e ajudar no processo de perda de peso. Mas não se pode errar a mão e jogar corrida antes de um treino forte de natação. O nadador não pode entrar cansado na água.

A corrida é base para muitos esportes, veja o Ayrton Senna: ele corria pra caramba para sustentar aqueles picos de esforço cardíaco que tinha no cockpit na hora da largada ou quando ia fazer uma ultrapassagem.

JQC – Para quem treina para duatlo e triatlo, qual a posologia de água indicada?

SILVA –  O que a gente recomenda é dar um peso no treinamento proporcional ao esporte. E na água se fica no máximo ¼ do tempo da competição. No Ironman nem isso, talvez seja 1/7 do tempo. Então treinar corrida e ciclismo faz muito mais sentido. Além disso, as roupas de natação melhoram de 25% a 30% o rendimento, não precisa bater perna, o que evita o desgaste.

O cara não pode sair fatigado do mar, produzir ácido láctico demais para enfrentar  de 4 a 7 horas de bike e corrida. Definitivamente, não é boa estratégia.  

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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