É mesmo coisa que colocam na tua cabeça?

Paulo Vieira

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MINHAS DUAS PRIMEIRAS MARATONAS, ambas disputadas em São Paulo, tiveram o dom de iludir – iludir a mim mesmo de que correr 42K não era nenhum bicho de 42 cabeças.

MINHA PRIMEIRA MARATONA, ANDANTE MODERATO

MINHA PRIMEIRA MARATONA, VIVACE

MINHA SEGUNDA MARATONA, HAIKU

MINHA TERCEIRA MARATONA, ADÁGIO

MINHA QUARTA MARATONA, ANDANTINO

A terceira e a quarta, corridas respectivamente em Hawke’s Bay, na Nova Zelândia, e nos 35 graus do Rio, as duas este ano, mudaram um pouco essa percepção.

Minha, digamos assim, preparação para as provas jamais foi a ideal, mas nestas houve outras interferências: o voo para os confins da Terra na véspera da mara de Hawke’s Bay e o trote lentíssimo de 3 horas com Carlos Dias no sabadão pré-maratona no Rio.

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Mesmo assim, tendo a acreditar que as quebras e, ainda pior, o fato de ter andado em vários trechos nas maras deste ano, têm muito mais a ver com cabeça do que com fadiga muscular.

O incômodo já começava no 26K, quando os 16K faltantes pareciam distância de ultramaratona. Muito antes, portanto dos 33K, ponto médio do que se acredita ser o famoso “muro.

Afirmar que a culpa pela vontade de parar com tudo é do “mental”, contudo, está longe de ser um consenso entre treinadores.

Thais Azevedo, da assessoria Meditação, é uma exceção. Ela procura trabalhar o “mental” de seus calouros de maratona. “A gente busca ativar a energia boa, fazer com que o corredor possa combater a espiral negativa do pensamento”, disse em entrevista ao JQC.

Além de estimular em seus alunos que predominem os pensamentos bons, ela usa outras estratégias, como antecipar situações de estresse em treinos longuíssimos e colocar corredores voluntários em pontos de provas para incentivar os companheiros.

Mario Sergio Silva, da Run & Fun, discorda do editor deste pasquim e vê nos erros de estratégia a principal razão de quebra. “Tem a questão fisiológica da depleção (consumo) do glicogênio muscular, mas se a estratégia de ritmo e de hidratação/suplementação forem corretas, é possível vencer.”

Ele dá seu próprio exemplo. Correu suas cinco maras sempre em split negativo (em ritmo mais forte nos 21K finais), sofrendo mais na segunda. “Não hidratei bem e cheguei tortinho, mas ainda assim em [split] negativo.”

Marcos Paulo Reis, da MPR, assessoria que tem muitos corredores menos preocupados em completar a mara do que fazê-la em tempos cada vez mais baixos, diz que “até o 30K não acontece nada, estão todos dando risada”.

“Mas do 33K ao 37K vamos ouvir um monte de histórias.”

Para o treinador, o final da prova é mesmo “muito mental”. Ele acredita que 50% das razões de quebra ou desistência devem-se à cabeça.

 

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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