PREMISSAS
1– Ninguém coloca uma arma na cabeça do caboclo e o obriga a correr uma maratona.
2 – Terminar uma maratona não é questão de sobrevivência. Nem física nem psíquica.
2 § 1 – Às vezes deixar de terminar, curiosamente, é
3 – Não há no mundo nada melhor distribuído do que o cabeça-durismo.
4 – 42K é quilômetro demais. O caboclo costuma perceber isso um pouco tarde, Inês morta, lá pelo 26K.
4 § 1 – O item 4 pode não ser verdade para certa fração de corredores doravante identificados como ultramaratonistas; eles, não obstante, estão também contemplados no item 3.
VALORES
1 – Corrida é prazer. Ponto. Period. Sem mais.
1 § 1 – Bem-estar, saúde, disposição para o que der e vier, coleção de visões do pôr do sol, de paisagens pastoris absolutamente do cacete e mesmo de áreas urbanas degradadas subitamente tornadas charmosas são consequências do disposto no caput deste tema.
NA VIDA REAL
1 – Todo caboclo que faz(de novo!) sua inscrição nos 42K quer porque quer chegar ao pórtico final lá no c* do Judas. E pegar sua suada medalhinha, mesmo que mal consiga andar depois disso.
2 – É muito dolorido para esse nosso caboclo retórico admitir que pode ou deve andar, por uns minutinhos que seja, durante a corrida. Afinal ele está ali para correr.
3 – É igualmente penoso para nosso caboclo do caput desta seção admitir que seus tempos de conclusão da maratona podem piorar – o que aliás tende a acontecer à medida que for ficando mais entrado em anos.
DISPOSIÇÕES
1 – É vedado ao caboclo justificar sua inexorável e irrevogável queda de performance com razões de qualquer ordem.
1 § 1 – São elas: ansiedade, falta de sono, falta de alimentação adequada, três horas de trote na véspera, primeiros 14K da maratona percorridos em ritmo inferior com o fito de conversar com amigos e/ou estranhos; e outras razões de natureza similar.

1 § 2 – Admite-se como única exceção ao disposto a justificativa da temperatura senegalesca em qualquer época do Rio de Janeiro, notadamente quando a maratona começar em horário esdrúxulo e mesmo assim sem metrô.
1 § 3 – Utilizada a justificativa discriminada no inciso 2 desta seção, cabe ao caboclo levar em consideração seu histórico pregresso de provas. Se já tiver performado bem em situação análoga, babau.
CONCLUSÕES
1 – O caboclo não deveria se lamentar por fechar uma maratona em pace 6 e pouco.
2 – O caboclo não deveria se lamentar por sucumbir ao “mental” e caminhar por 1 ou 2 minutos em dois ou três trechos, no Leblon e em Copacabana.
3 – O caboclo, de acordo com o item 4 da seção “Premissas”, poderia parar logo com essa brincadeira e deixar de disputar maratonas. Mas ele, caboclo, está contemplado no item 3 dessa mesma seção, o que dificulta um pouco as coisas.
3 § 1 – O próximo “desafio” similar do caboclo é na Serra do Rio do Rastro, em 3 de setembro. Ganho altimétrico bastante significativo (nota do tradutor: pirambeira) a partir do 17K.
APENSOS
O PRIMADO DO PRAZER
GINÁSTICA PARA A CABEÇA
MARATONA: A CRETINICE FISIOLÓGICA
PARE DE DISPUTAR PROVAS DE CORRIDA
CORRENDO COM ABRAMOVIC
ESPECIAL MARA DO RIO: O ULTRA COMEÇOU A CORRER 20 HORAS ANTES
ESPECIAL MARA DO RIO: DEPOIMENTOS SUADOS DE MARATONISTAS
NA NOVA ZELÂNDIA: A PRIMEIRA QUEBRA A GENTE NUNCA ESQUECE
MINHA PRIMEIRA MARATONA, VIVACE: A LOUCURA VEIO NO FINAL
OS VERDADEIROS MARATONISTAS
ABRINDO TUDO/DISCLOSURE Paulo Vieira, editor deste pasquim, teve a passagem para o Rio e duas noites de hotel em Copacabana bancadas pela Tom Tom, uma das patrocinadoras da Mara do Rio; e a inscrição para os 42K bancada pela organização do evento.