A MELHOR COISA DA RÁDIO JOVEM PAN, desde sempre, foram suas vinhetas. Paulo Alcoragi, para dar nome aos bois, era o grande responsável, no FM, por aquelas maravilhas. Quanto ao jornalismo, ele já foi melhor, ou melhor dizendo, ele já foi jornalismo.
Posto isso – eu excluí um parágrafo inteiro que, de tão óbvio, não é necessário estar aqui –, quero dizer que a vinheta que chamava Israel Gimpel, o correspondente do Rio, vai para o túmulo comigo de tão boa, de tão duradoura.
Ela dizia: “E agora, o Rio, com Israel Gimpel”.
E agora, o Rio.
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CARAMBA, O PAUL (NdR: Paul é o editor deste pasquim) me pediu para escrever alguma coisa a respeito da técnica de subir montanha.
Quando me programei para subir pela primeira vez a Rua Amado Nervo e depois descer até o hotel das Paineiras ou o que sobrou dele, busquei na internet justamente informação sobre as técnicas mais adequadas de corrida em subida, como inclinar o corpo, o tipo de passada, quais os músculos iriam sentir mais o esforço.
EDU ELIAS, DA FOX, E O TREINO MAIS LINDO DO MUNDO
DA BARRA AO CRISTO
UMA CORRIDA NA ROCINHA
CORRIDA COM ABRAMOVIC
Assisti a videos e acumulei o que podia de dados. Com um mapa feito à mão pelo veterano maratonista Jairo Paraguassu, fui.
Eram 6 da matina e eu estava estacionando o carro no posto do Alto da Boa Vista. Já havia alguns carros com racks de bicicletas parados. O movimento era pequeno mas já anunciava que logo não haveria mais vagas por ali.
Olhei para a ladeira e encarei. Comecei mais forte do que deveria, e, pouco mais de 100 metros de subida íngreme, senti que daquele jeito eu não cumpriria os 4K programados.
Reduzi, e com um esforço tão físico quanto mental, segui. A paisagem ajuda, é floresta dos dois lados e em alguns trechos não se vê nem mesmo o céu.
Um mirante me convidava a parar e apreciar a paisagem, lugares com mesas de pedra me chamavam para um piquenique, mas eu precisava resistir a todas as tentações e evitar a parada “contemplativa”.
O ritmo caía: uma bicicleta e um corredor mais preparado me passaram. À medida que a montanha era sendo vencida, ela cobrava seu preço em queima calórica – um dízimo que não parece ser exigido no asfalto plano ou na areia da praia.
Mas eram só 4K. Em algum momento, as placas que indicavam o caminho do Alto do Sumaré agora mostravam a descida das Paineiras.
Não foram precisos 300 metros para a ilusão se desfazer. Enquanto skates e bikes voadoras me ultrapassavam, eu ia entendia onde estava me metendo.
Os dedos dos pés batendo firme na parte dianteira do tênis foram causando atrito – mais tarde isso me custaria uma unha encravada e não sei quantas outras quebradas. Músculos que jamais haviam se manifestado agora executavam uma triste melodia.
Depois de resistir bravamente aos insistentes convites para parar e aproveitar as cachoeiras que compõem o cenário das Paineiras (e servem de praia na floresta), e observar com mais vagar macacos, tucanos (aliás nunca tinha visto um tucano rubro-negro que assobiava o hino do Flamengo), cheguei aos restos mortais do hotel. Era o meu destino.
Ali há um quiosque com bebidas geladas e salgadinhos e é também o ponto de encontro das vans que levam ao Cristo.
Sabia, portanto, que havia completado os 8K de subida e descida e que era hora de voltar. Entornei uma garrafinha de isotônico, tomei um gel e voltei.
Voltei, mas voltei discutindo com as pernas e com a cabeça, num diálogo nem sempre harmônico, nem sempre civilizado.
Ao final dos 16K, fiquei com a sensação de, como na propaganda, a primeira vez a gente nunca esquece.
Depois dessa corrida inesquecível, desbravadora, vieram muitas, muitas mesmo.
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O problema é que basta ficar um tantinho acomodado no nível do mar para, na hora de encarar a montanha de novo, só pensar numa canção, aquela que fala da long and winding road.