No coração da selva

Paulo Vieira

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SE EU FICASSE NOVAMENTE 58 DIAS parado, como já aconteceu no tenebroso inverno de 2014, não deixaria para fazer minha rentrée no cascalho em Manaus.

Pois é aqui na capital amazonense, cidade estabelecida neste improvável Brasil interior, um Pará inteiro a separar-lhe do mar, uma floresta impenetrável a barrar-lhe o avanço a oeste, que me encontro. Naturalmente, acordei com as galinhas para fazer minha corte endorfínica à cidade.

58 DIAS DEPOIS, O RETORNO

EU, DAVID LUIZ

Deixei o hotel Go Inn e logo ganhei as praças e ruas do Centro Histórico – o herzoguiano Teatro Amazonas a demarcar o início da carreira.

Manaus/Foto: Skyscrapercity
Manaus/Foto: Skyscrapercity

Logo derivei na direção do porto de São Raimundo e passei sobre o braço do Negro – é correto falar igarapé? – que adentra Manaus. O fim dessa pequena ponte faz esquina com o próprio grande rio e há ali um parque costeiro, pequeno mas agradável, o parque do Rio Negro. Ele substituiu um conjunto de palafitas que antes havia no local.

CORRIDAS POR BH, VITÓRIA E RIO

CORRIDA POR FORTALEZA

NA RUA DO SOL, MACEIÓ

UMA CORRIDA FULL MONTY EM TAMBABA

Uma pena que, nem três minutos de cascalho dentro do parque, e o caminho já se interrompa abruptamente. Sobra o rio, majestoso, e a visão da bela ponte de 3,7K que passa sobre ele em direção a Paricatuba e, mais à frente, ao rio Solimões.

O Negro é motivo mais do que suficiente para conhecer Manaus. Que outra capital brasileira pode ter um rio a lhe banhar com tamanha grandeza? Só me vem ao coco o estuário do Tejo, na antiga metrópole.

Com mais tempo eu bem que poderia ter insistido pelas quebradas daquela região para finalmente chegar à ponte, sobre a qual, aliás, há uma famosa prova manauara de corrida de rua. Mas preferi voltar à área portuária e de novo ao Centro.

É que, além de não ter neste dia o que os antigos guias turísticos chamavam de “dia livre para compras”, eu senti na pele o que é a tal umidade amazônica. A de hoje de Manaus, segundo os higrômetros do INPE, era de 94%.

É bem difícil correr nessas circunstâncias. A altíssima umidade dificulta a evaporação do suor e aumenta a temperatura corporal. Com isso, com poucos minutos de cascalho eu já estava sentindo o esforço e parecia uma pequena poça ambulante.

Quebrei lá pelos 50 minutos, diminuindo bem o pace no final. Creio que estes 58 minutos de corrida em Manaus valeram por hora e meia sob o sol mauritânio de outono de São Paulo.

Não me considero obsessivo, mas se há algo que eu costumo teimar em fazer é voltar a uma cidade para cumprir um determinado itinerário. A ponte sobre o rio Negro, maior ponte fluvial e estaiada do país, portanto, que me espere.

Como dizem os manauaras, já estou no retorno.

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

Um Comentários

  1. Avatar
    Margaux

    Então venha. Realmente a umidade torna nossos treinos especiais. Correr na Ponta Negra também é obrigatório.

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