O jornalismo à PVC

Paulo Vieira

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Não quebrei a internet, mas enlouqueci o horóscopo. Pela primeira vez, o inferno astral de uma pessoa não começou antes do aniversário, mas depois dele. Obrigado a todos que deixaram seus comentários – muitos com sinceras preocupações com o futuro do Brasil – sobre nossa polêmica publicação de ontem.

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E se depender do futuro da imprensa esportiva do Brasil, tempos melhores (talvez) virão. Porque tempos melhores já vieram.

Se ainda há pelo éter a velha mesa-redonda – cuja caricatura foi maravilhosamente desenhada pelo cineasta Ugo Giorgetti em seu primeiro Boleiros –, há também jornalistas muito preocupados em salvaguardar a informação, a boa informação. Mesmo que esses caras tenham capacidade mnemômica para desfiar escalações de times de qualquer liga, década ou país durante um programa de TV ou um reality show inteiro.

Como fazem em Boleiros, aliás, os personagens grotescos do episódio inspirado no saudoso Dener.

PORTUGUESA, VOCÊ FAZ PARTE DE UMA GRANDE FAMÍLIA

O JORNALISTA ULTRAMARATONISTA

O FINO DO JORNALISMO

A MÍDIA É RUIM? PEGUE O SEU QUINHÃO

NÓS QUE AMÁVAMOS TANTO O JORNALISMO

(NÃO) ESQUEÇAM O QUE EU ESCREVI

Um desses caras é o PVC, o Paulo Vinícius Coelho, homem que escreve para a Folha/UOL e fala ao vivo na Fox Sports com a expertise e a tranquilidade que seus 40 e poucos anos raramente emprestam a alguém.

Eu estava preparado para coletar um punhado de truques que nos ajudassem a ganhar um pouco de capacidade de memória e foco, do tipo “treine insistentemente as aberturas de xadrez Sokolsky”, mas tomei uma entortada do PVC: a conversa foi bem mais amena.

A seguir, algo de sua técnica e tática.

A MEMÓRIA PRODIGIOSA

“Sempre gostei de futebol, e quando moleque tinha boa memória. Isso faz com que eu não precise consultar a escalação do Guarani [campeão brasileiro] de 1978, pois vivi aquilo. Com o tempo, você começa a ter atenção para outras coisas. Diferentemente de muita gente, fui trabalhar com aquilo de que era apaixonado, e fiz questão de tentar manter esse afeto que eu tinha dos meus tempos de moleque. Além disso, leio e vejo futebol. Não paro de rever coisas.”

EX-JOGADORES COMENTARISTAS

“Muitos deles, ao pararem de jogar, não assistem futebol, não gostam de ver futebol. Assim não vão poder saber quem é, por exemplo, o Niang (atacante do Milan, time que jogava contra o Napoli no horário da entrevista). Não basta ter jogado com o Afonsinho, é preciso saber como joga o Higuaín.”

FORMA NÃO É FUNÇÃO

“Não me policio para falar o que falo ao vivo. Me policio para ter uma notícia para dar ao vivo. O que é preciso [em cada mídia] é usar o tempo a favor, entender o mecanismo de cada veículo – ser mais analítico no jornal, rápido no rádio, direto na TV. O importante é ter uma história para contar, tentar ir além, conversar com os personagens. E numa análise de jogo, tentar ver o que o telespectador não percebeu – ou, se for o caso, dizer também o que ele percebeu.”

PVC
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O MELHOR TÉCNICO

“É difícil responder qual é a principal característica que o [melhor] técnico precisa ter. Mas, por paradoxal que pareça, acho que é a capacidade gerencial, a capacidade de resolver problemas humanos. Não o ‘paizão’ à Felipão, mas a habilidade de tirar o máximo de um jogador, de seduzi-lo, de convencê-lo para suas ideias. E de também entender o que caracteriza esse seu jogador.”

O MELHOR COMENTARISTA

“Acho que o que tem faltado a nós, jornalistas, é ouvir. Nesta era de blogues e internet em que todo mundo pode achar alguma coisa, estar baseado em alguma coisa faz uma diferença desgraçada. Eu acho que, como qualquer pessoa, tenho um momento mais arrogante, mais prepotente, mais lúcido, mais tranquilo, tenho também o momento em que faço a análise mais correta possível. Mas procuro ouvir, saber o outro lado [antes de proferir a própria opinião].”

JORNALISMO E VAIDADE

“Acho que todos que trabalham na TV gostam de ser reconhecidos, ficamos um pouco vaidosos. Eu gosto de ser identificado como alguém que tem um conhecimento enciclopédico do futebol, mas o que mais me protege da vaidade é a informação. Fazer jornalismo é, como no mito de Sísifo, subir todo dia o morro com uma pedra [enorme nas costas].  A busca diária da informação nos protege da vaidade. O jornalismo é ter que subir aquela porra do morro todo dia de novo.”

MÍDIAS SOCIAIS

“Quando eu estava na ESPN, disse num Linha de Passe [sobre apelidos de clássicos, de novembro de 2014] que não dava para chamar o Atlético x Cruzeiro de João e Maria [como alguns atleticanos chamam]. Mas mesmo assim os xingamentos de cruzeirenses no meu Twitter cresceram de um jeito que na manhã seguinte eu decidi ir à TV pedir desculpas por algo que eu não tinha dito.”

De fato, no Twitter do PVC da época, um cruzeirense de Montes Claros recomenda: “PVC, você sabe o alcance da ESPN Brasil e de sua fala, esse tipo de comentário de boteco deve ser evitado.”

 

 

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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