A internet é apontada por dezenas, centenas de pessoas, como a responsável pelas demissões em cascata no jornalismo brasileiro. A dificuldade em ~monetizar~ o conteúdo, a que todos querem supostamente ter acesso só de graça, seria o cul-de-sac (precisava usar, perdão), o beco sem saída da nossa remuneração, e, por consequência, da profissão.
A CASA CAIU, E AGORA?
Para não entrar no mérito da irrupção de novas e velhas formas de pagamento – fundos de capital, mecenato, editais, contribuições individuais –, culpar a internet é cômodo demais. A parte posterior da cobra.
NÓS, QUE AMÁVAMOS TANTO O JORNALISMO
Quem o faz age da mesmíssima maneira dos taxistas paulistas, cariocas e gaúchos em relação aos motoristas do Uber. Sem tirar nem por.
PLAYBOY, A VOLTA DA QUE NÃO IA
Mas a pauta aqui é positiva. A internet, veja só, ajuda a perpetuar nossa história de uma maneira que nem mesmo os mais diligentes biógrafos de si próprios, nem mesmo os mais organizados colegas (um milhão de salves ao imenso Armando Antenore), seriam capazes.
O ESPECIALISTA
É verdade que hoje o “direito ao esquecimento”, o direito de ter o próprio nome limado das buscas do Google, é uma realidade na Europa sob certas condições.
O VERDADEIRO ESPECIALISTA
No Brasil, projeto já aprovado na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara muda preceitos do Marco Civil da Internet e facilita a retirada de conteúdo que ligue alguém a fato “calunioso, difamatório ou injurioso”, ainda que a Justiça não tenha adrede estabelecido se tal fato é mesmo calunioso, difamatório ou injurioso.
O FINO DO JORNALISMO
Com tudo isso, inspirado pela leitura do suplemento Ilustríssima, da Folha de S.Paulo, deste domingo, fui ao Google na vã esperança de encontrar um perfil sobre o engenheiro abolicionista André Rebouças, que escrevi para a finada revista República, em 1998.
HISTÓRIAS QUE NOSSAS BABÁS NÃO CONTAVAM
Não só o encontrei, como, numa distorção feita por algum leitor influente, me vi autor de um livro sobre Rebouças. O livro tem o mesmo título da reportagem, O negro abolido pela República. Assim, folgo em, sem esforço, ter cumprido uma das metas desta encarnação, qual seja, escrever um livro.
O CORREDOR SEM METAS
Vou usar isso da próxima vez que me pedirem um pé biográfico, uma biografia em três linhas. E espero que o tal projeto 215/2015 não passe no plenário. Vai que me somem com essa autoria?