Diante do fato concreto e trágico da desaparição de uma mãe, chega a ser irrisório lembrar-se dela por uma característica menor, ainda que metonímica. E é igualmente irrisório usar essa característica para abrir um texto sobre corrida. Mas creio que tudo, tudo mesmo, será irrisório diante do desterro acachapante e patético em que somos jogados com a morte de uma pessoa tão próxima.
Por isso aqui vai uma frase de dona Maria Natália (1928-2010), useira e vezeira desses ditados que temo ver desaparecer no repertório da minha descendência.
“A lã não pesa ao carneiro.”
Porque a lã não pesa ao carneiro, porque é melhor prevenir do que remediar, eu decidi não forçar minha musculatura estes dias. Senti uma leve pontada na coxa esquerda – quadríceps, arriscaria dizer – na quinta-feira e me resguardei no fim de semana.
Com isso, minha quilometragem dos últimos oito dias foi pífia. Uns 15K contra o relógio na quarta passada e os 10K do Circuito das Estações – Etapa Inverno, no Pacaembu, em São Paulo, domingo retrasado.
Concluído em 46’16”, boa marca, não a minha melhor.
Melhor fez a Mariana de Ávila, jovem jornalista mineira radicada em Brasília, curtidora do JQC, que se superou. Ela conta abaixo como foi a participação dela no circuito candango da mesma prova.
Até há pouco tempo, costumava ser bem sedentária. Nos tempos de escola, odiava as aulas de educação física. Para falar a verdade, nem lembro muito bem por que decidi começar a correr, mas sei que a primeira vez foi no dia 8 de janeiro de 2014. A data ficou registrada no aplicativo do celular.
Nos meses seguintes, tentei, na medida do possível, manter um ritmo de treino e de idas frequentes à academia. Mas aí veio um emprego novo e uma temporada movimentada de frilas. Resultado: acabei quebrando a rotina que demorei semanas para consolidar.
Daí que chegou o dia de correr a etapa Inverno do Circuito das Estações, em Brasília.
Antes de corrida, estava um pouco apreensiva. Não treinava havia um bom tempo e dormira muito mal na noite anterior. Mas tentei, não sei de onde, buscar forças para correr. Acredito que essa força veio da saudade de correr.
Esperei cinco minutos para que os primeiros metros depois da largada estivessem menos congestionados e fui. E veio aquela sensação gostosa da corrida. Comecei num trote básico e aumentei o ritmo. Depois precisei andar.
Voltei pro trote. E foi assim que consegui concluir os 5k em 36’50”.
O tempo já foi melhor que o da etapa Outono, e o objetivo agora é organizar a rotina para superar a marca na “Primavera”.
Uma das alegrias do dia foi ter conseguido fechar a temida “subidinha do Congresso Nacional” num tiro. Para quem não conhece, essa é uma subida da segunda metade da prova, que, embora curta, é bastante íngreme.
O percurso já é um velho conhecido dos corredores de Brasília. Passa pelos principais pontos turísticos da capital: Catedral Metropolitana, Esplanada dos Ministérios, Congresso Nacional, Praça dos Três Poderes e Palácio do Planalto.
Comigo, naquele último domingo de maio, estavam mais de 5 mil participantes. Um de nossos maiores desafios foi o clima seco, que já começava a tomar conta da cidade. E olha que ainda nem estamos na época em que a secura fica realmente ‘braba’. A saída para enfrentar a baixa umidade relativa do ar é buscar se hidratar sempre.
O pensamento logo após a corrida era: “Por que fiquei tanto tempo parada?”. Enquanto esperava na fila pra pegar minha medalha, o isotônico e a banana, a única coisa que pensava era em voltar a correr no parque e frequentar a academia.
E já estou voltando. A motivação? Estar bem para os seis meses de corrida que completo no mês que vem – e também para meu primeiro ano como jornalista, no fim de junho.