Diante das histórias de ultramaratonistas que começo a ver no livro “Nascido para correr”, do americano Christopher McDougall, lançado aqui pela Editora Globo e disponível em algumas bibliotecas da cidade de São Paulo, meus recordes recentes podem ser considerados uma piada.
De terça passada até ontem fiz quatro corridas que mudaram alguns paradigmas. A de ontem foi a mais longa até agora, 2:15′, mas, mais do que o tempo a ser comemorado, acho que devo celebrar o itinerário: foram o que suponho ter sido 24 ou 25K, em São Paulo, sem me preocupar muito com carros. Um terço disso foi dentro da Usp, mas o resto, no Alto de Pinheiros, sinaliza que é possível fazer longas distâncias na cidade.
Tanto nesta corrida como na de terça da semana passada inovei no ritmo. Como estava dentro do clube da Usp, o famoso Cepe, aproveitei a recém reformada pista de atletismo para fazer aquilo que sempre evitei – correr alguns tiros (falaríamos mais sobre isso aqui). Ao vir de uma volta de 1,1k pela trilha do Cepe embalava e entrava na pista e seu piso recendendo a novo no pau. Tentava manter o pique até o final da volta, que suponho ter 400 metros, mas nem sempre era possível.
O que mais me impressionava é que, voltando para a trilha de 1,1k, não conseguia trotar, mas sim retomar meu pace habitual de uns 10,5, 11k/h. Ontem meus tiros começaram aos 55′ de corrida, o que me mostrou que estou aí com uma reservinha boa.
É preciso que se diga que vinha de três corridinhas em montanha, a maior, em Cunha, de 1:50′. Isso deve ter ajudado a me dar essas reservas extras na hora em que elevava meu batimento a sei lá se 90% ou 95%.
Tudo pra me achar o mais comezinho dos corredores ao folhear o livro do gringo. Entre tantos exemplos, há o da professora americana Ann Trason, que aos 33 anos começou a participar de competições e ao cabo de quatro anos colecionava diversas vitórias e o tempo de 6:44′ para a módica distância de 100k.
Nada como um dia atrás do outro.
Para mim falta ultrapassar a humilde barreira dos 30k, que é quando, como disse em entrevista a este blog o amigo e publisher da Runner’s Brasil, Sérgio Xavier, a maratona realmente começa; e é quando também, como falou meu amigo Guilherme Cavallari, que passou seis meses recentemente pedalando pela Patagônia, a ausência de glicogênio começa a cobrar seu preço em músculo. Mas esta conversa, além daquela se é melhor usar tênis sem amortecimento, fomentada pelo livro, deixo para mais à frente.
Morais, provisórias, destas histórias:
– São Paulo não é Londres, mas dá para se divertir e se instruir um bocado em suas bibliotecas (e trabalhar; estou escrevendo este texto de um iPad na Álvaro Guerra, no Alto de Pinheiros);
– Para correr não é preciso nada. Nem tênis apropriado. Até, é verdade, virem as primeiras dores;
– Correr a 12 graus, como ontem, é bem mais eficaz do que a prazerosos 19, 20 graus;
– A corrida é mesmo uma febre. Ontem, 7 da noite, friaca, vi vários malucos se exercitando no Parque da Água Branca e na Paulista, só para citar alguns lugares por onde passei;
– E uma do Pessoa, vai de memória, que me ocorreu enquanto escrevia estas mal-traçadas: Não sou nada/ Não posso querer ser nada/ À parte isso tenho todos os sonhos do mundo.