A melhor razão para terminar uma maratona rápido

Paulo Vieira

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FETICHE DOS FETICHES, fetiche travestido de desafio atlético, o ato de completar uma, duas, dez, cem maratonas passou a ser um objetivo para muita gente não só no Brasil como em todo o planeta.

Nas gerações mais entradas em anos, essa estranha meta ganha fumos de obsessão, talvez por significar uma vitória sobre a inexorável decadência física que nos acomete.

É conhecido o exemplo do médico, escritor e compulsivo maratonista Drauzio Varella. Ao entrar em outra quadra da vida, decidiu acelerar seu ritmo de participações anuais na prova-fetiche. Ele explica a parada neste texto de seu próprio site, mas eu adianto o trabalho do preguiçoso leitor.

“Quando completei 70 anos, enfrentei uma crise nada existencial: quantas maratonas ainda serei capaz de completar? Decidi, então, correr três a quatro por ano, resolução que me obrigou a manter a rotina de treinamentos intensivos que tortura todo corredor forçado a sair da cama antes do dia clarear.”

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Ignoro como estarei daqui a 20 anos, mas não saio da cama antes de o dia clarear mesmo tendo colocado, fetiche dos fetiches, vaidade das vaidades, não uma, mas três maratonas na minha agenda endorfínica de 2017.

A guisa de “disclosure”, sigo sem auxílio da planilha e acreditando no primado do prazer mesmo na hora do sapeca iaiá (também conhecido nas internas por “muro”); também só acordo cedo quando é meu dia de levar a filha mais velha à escola – por alguma razão misteriosa, ela gosta de chegar meia hora antes do início da aula.

A primeira prova já assoma no horizonte: é dia 13 de maio – mais abaixo falo sobre ela; um mês depois vem a Mara do Rio, dia 18; e fecho esse giro invernal nos contrafortes da serra do Rio do Rastro, no sul catarinense, no 42K “uphill” de 2 de setembro.

Waal, vai sobrar todo um quadrimestre, vejo agora, para me exilar no colo prazenteiro e hospitaleiro dos fermentados e destilados. Rapá…

MARATONA, O FETICHE

ATLETA E TREINADOR

SÉRGIO XAVIER CHEGA A BOSTON

CORRER, O LIVRO DE DRAUZIO VARELLA

CESINHA CANDIDO, O NOVO MARATONISTA

É PRECISO DESRESPEITAR A MARATONA

PARE DE USAR PLANILHA

O PRIMADO DO PRAZER

O MURO DOS 32-35K

A MARATONISTA CERVEJEIRA

GIM-TÔNICA

VINHO, NUDEZ E CHOCOLATE

Para chegar ao disco de partida da primeira dessas provas tenho de viajar um tantinho, pouco mais de 11 mil quilômetros.

Haja fetiche. Meus primeiros 42K de 2017 vão ser entre videiras e olivais em Hawke’s Bay, no litoral leste da ilha Norte da… Nova Zelândia.

Da beira do Pacífico, em Napier, os corredores seguimos rumo sul, a Clive, para depois tomar o interior. O final da prova é dentro da propriedade vinícola Sileni Estates, onde uvas de maturação rápida e delicada como a sauvignon blanc e a cabernet franc são tratadas com deferência.

Eu sou essa pessoinha amanhã, digo, dia 13
Eu sou essa pessoinha amanhã, digo, dia 13

Chato, né?

Há maratonistas que se esforçam prova após prova em baixar suas marcas de corrida. Trata-se de uma obsessão própria de atletas de alto rendimento estranhamente importada pelos fetichistas.

Eu mesmo, confesso, vi-me guiado pelo relógio em boa parte dos 42K da mara de São Paulo, ano passado.

Pois agora, na Nova Zelândia, com o término da prova numa vinícola, não consigo ver melhor razão para concluir essa maratona em dois palitos.

3:22, quiçá?

 

 

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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