ENTÃO VOCÊ DECIDE FAZER ALGO QUE nunca ninguém fez antes na vida. Se fez, não há documentos, mapas, indicações. Não há um relato oral que seja. Perto dessa jornada inédita, uma travessia oceânica num barco a remo, a subida ao monte Everest parece coisa para principiantes.
E aí você vai lá, passa cem dias da sua vida sozinho nessa jornada pelo Atlântico, apenas com instrumentos de navegação do tempo do Onça, os remos, seus alimentos liofilizados. Sozinho, mas nem tanto: há os tubarões que se alimentam das cracas do fundo do barco e umas baleias que se aproximam para fazer umas visitas emocionantes.
Quando finalmente retorna a seu país, no porto planejado desde o início, são e salvo, tendo vivido algumas situações realmente agudas, cabulosas, que colocaram sua vida em perigo, prefere não fazer publicidade disso.
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É convencido a escrever um livro por um vizinho, mas demora-se uma cara nele, a ponto de sua jornada quase ser esquecida. Trata-se contudo de uma epopeia tão descomunal, seminal, extremamente bem planejada, que ela precisa – e vai – ser conhecida.
O livro se torna um best seller, mesmo tendo seu autor evitado de todas as maneiras a hipérbole, os adjetivos, os fumos de epopeia. Para ele, o paradigma é o livro de outro remador solitário, o francês Gérard D’Aboville, que em L’Atlantique à bout de bras conta num relato seco como foi atravessar o mesmo Atlântico, mas entre os Estados Unidos e a França, uma rota bem mais popular.
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A mais famosa jornada oceânica de Amyr Klink é bastante conhecida dos brasileiros, mas eu só fui ler o ótimo Cem dias entre céu e mar, de 1985, outro dia, às vésperas de meu almoço num japa com o autor e sua mulher, a fotógrafa Marina Klink, num 2 de fevereiro, dia de Iemanjá.
O almoço se tornou um perfil-entrevista de Klink que está na edição de março da revista PODER, para a qual eu colaboro mensalmente.
Não está na internet, mas você encontra fácil fácil nas boas casas do ramo – nas bancas, quero dizer.
Não estava. A matéria já está linda, leve e solta no site da revista, veja aqui.
Roubo aqui uma palhinha de mim mesmo e dos parças da revista.
Além da secura da escrita, o que ele gosta em D’Aboville é a ausência total de uma missão, um propósito maior, como se a viagem fosse pouco mais do que um passeio de fim de semana. “Superação”, essa palavra tão usada por agentes esportivos, publicitários e mentores corporativos, não deu as caras no nosso almoço.
A despeito de tudo isso, é difícil não ter Amyr na conta de um semideus, um ser talhado para viver as missões mais cabulosas que alguém pode enfrentar na Terra, alguém que colocaria os sobreviventes de Jogos Vorazes, se eles não fossem personagens de ficção, no chinelo. Mas ele não fica nem um pouco à vontade no papel de heroi e faz questão de desviar dos tapetes que são desenrolados para amortecer seus passos
Amyr gosta de dizer que num barco não é possível deixar o problema de hoje para amanhã, sob risco claríssimo de se ir a pique. “A beleza do barco, a característica mais legal dele, é que afunda. É preciso ter noção exata do tamanho das consequências do que se faz ali. Se um executivo quiser ter uma experiência similar à que se tem no barco, seria bom que sua empresa implodisse”, disse à reportagem da PODER.
Agradecimentos especiais ao pau-pra-toda-obra Miguel Lebre, autor da foto dos dois caras realmente à vontade acima.
Que legal, Paulo. Li Cem dias entre Céu e Mar quando foi lançado, fiquei fã do Amyr, daquelas de ficar na fila pra pegar autógrafo e tudo. Ele continua me inspirando. Aliás, tu também, com tuas viagens e corridas. Abraço.
Olá, Paulo.
Agradecemos pelo belíssimo texto sobre Amyr Klink!
Grande abraço, Ana Yahn (assessora do navegador)
https://www.facebook.com/amyrklink.akpp/
Estive com Amyr mais de uma vez em conversas particulares. Ele é assim mesmo.
Excelente texto!