Dicas mentais para enfrentar desafios de 250K

Paulo Vieira

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PARÇA DESDE CRIANCINHA DESTE PASQUIM, o ultramaratonista Carlos Dias já participou das provas do circuito 4 Deserts, em que é preciso cruzar 250K dos desertos do Atacama (Chile), da Namíbia (costa ocidental da África), de Xinjiang (nordeste da China) e no gelo da Antártida.

A escolha das locações não é meramente diplomática, tipo a Fifa das corridas de resistência fazendo um mimo para os países pequenos para angariar votos e se perpetuar no poder. Tratam-se dos lugares mais extremos (mais seco, mais ventoso, mais frio, mais quente) do mundo.

A pedido deste JQC, Carlos escreveu um pequeno tratado sobre a preparação mental para essas provas, cuja íntegra ele vai publicar em seu site.

Aqui vai um teaser com seis dicas para quem quiser se embrenhar em quebradas como as que ele se mete.

A boa notícia é que não é preciso ser um super-humano, como ele mesmo foi considerado pelos negos do History Channel (e não NatGeo, como eu havia escrito mais cedo, perdão), para fazer o que ele faz. (No capítulo embebido abaixo ele corre 100K entre sua goma em São Bernardo do Campo e sua querida Pedra Grande, em Atibaia).

CARLOS DIAS E TÉCNICO HEROI FUNG FALAM DOS DESAFIOS DA ULTRAMARATONA

UM DIA ESPECIAL NA PEDRA GRANDE

FABIO TCHÊ, O ULTRA CONSCIENTE

MINHA PRIMEIRA MARATONA, VIVACE

CLAYTON CONSERVANI, PAI DE FAMÍLIA EXTREMO

Acho que o episódio ficaria melhor com um dublador menos caricato – conheço um sujeito na City Romana que faria a treta bem melhor.


(Dicas para manter a cabeça do seu lado, por Carlos Dias)

Dica 1 Tenha uma conversa honesta com você mesmo. Identifique seus pontos fortes e fracos e crie um compromisso com a prova. Ela mexe com você? Te dá um frio na barriga bom que te empurra pra frente? Então vai que é sua.

Dica 2 Nos seus treinos físicos aproveite para mentalizar a prova, a quantidade de atletas, as subidas e descidas do percurso, as condições climáticas que irá enfrentar. Mentalize também o ritmo da sua respiração.

Eu também costumo me perceber alegre por poder estar ali correndo e compartilhando com outras pessoas aquela experiência. É um bom estimulante para os momentos cabulosos.

Dica 3 Tenha uma espécie de mantra e utilize-o para as horas em que o cansaço e os pensamentos duvidosos tentarem dominar sua mente. Nos 250K do Sri Lanka eu falava e às vezes soltava um grito. “Não vou voltar com essa desculpa” (a desculpa é que eu estava com desarranjo intestinal) ou “Só mais um passo”.

Você pode encontrar numa frase ou numa letra de música algo que te ajude a realinhar seu objetivo nessas horas.

Dica 4  Tenha um Porquê forte, assim mesmo, com P maiúsculo. Nos momentos de extrema dificuldade seu cérebro irá perguntar “Por que você está fazendo isso?”

Você precisa ter uma razão boa o suficiente para responder essa pergunta (nada retórica) com clareza e determinação. Eu foco na imagem do meu filho, nas crianças que lutam contra o câncer, nos momentos bons que tive com minha mãe, em suas frases de incentivo. Em segundos, tudo isso cria imagens positivas para eu seguir em frente.

Dica 5 Invente pequenas metas e passatempos durante a prova. Como olhar um corredor ao longe e determinar que dentro de duas horas ele estará ao seu lado; ou enumerar os atletas que correm com boné vermelho – tem de ser vermelho!  Isso vai ajudar a pulverizar os pensamentos negativos.

Dica 6 Cante e conte piadas para você mesmo [Nota do editor: no mínimo vai melhorar seu repertório]. Lembrei-me numa prova de um tombo em um cânion no Madagáscar e a minha reação foi dar muita risada [Nota do editor 2: pimenta no dos outros, digo, no do mesmo, é fácil]. Levantei mais leve para continuar a corrida.

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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