UM DOS ASPECTOS MAIS SONEGADOS PELOS TREINADORES de corrida é a cabeça. Ninguém te ensina o que se deve ter (ou não ter) em mente na hora de correr. E para muitos praticantes de maratona e de provas ainda mais longas – e das rodagens mais curtas, por que não? –, a mente jogando a favor é fundamental.
Este JQC vem contribuindo com o tema, ao oferecer estratégias mentais amiúde para os corredores. Os links abaixo são bastante úteis para nosotros, quero crer.
GINÁSTICA PARA A CABEÇA
CORRENDO COM ABRAMOVIC
UM CADERNO DE ANOTAÇÕES PARA CORREDORES
É A CABEÇA, ESTÚPIDO
11 RAZÕES PARA DEIXAR O SMARTPHONE EM CASA
TÉDIO
Eu sempre corro “full monty”, ou seja, sem fone de ouvido, iPad, smartphone ou assemelhados. Nosso correspondente no Rio, Ricardo Henrique, o maratonista desencanado, também é dessa escola. Ele coloca um pouco mais de molho na mistura.
Go Brocador.
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CERTA VEZ, DEPOIS DE CORRER pelo Joá, Costa Brava, descendo pela Barrinha, parei para tomar um caldo de cana e encontrei um amigo que, ao me ver todo suado, falou do seu interesse em correr.
O problema é que ele não aguentava ouvir o “monótono som” dos seus passos. Achei interessante aquele comentário e voltei pra casa – havia ainda outros 8K de cascalho a percorrer – só pensando naquilo. Foi quando me dei conta de que o ato de correr induz à introversão.
Correndo por uma hora, à beira da praia, você é capaz de se distrair com a paisagem, as pessoas etc. Nesse sentido, é melhor que esteira, imagino.
Quando comecei a correr, além dos tênis, ia experimentando diferentes fones de ouvido, músicas, audiobooks, até que um dia quase fui atingido por um coco arremessado pelo pneu de uma carro.
Só o notei quando ele já passava por mim como um meteoro capaz de abrir crateras ou fraturas expostas em pernas de corredores.
Decidi então que prestaria atenção a todos os sons, aos sinais de alerta e a tudo o que estivesse à minha volta. E assim, de certa forma, passei a ouvir as músicas da minha cabeça e ler os livros da minha mente. A oxigenação causada pelo fluxo sanguíneo ativando os neurônios me conduziram por um “time lapse” que me faz perder a noção do tempo.
Existiam apenas as necessidades biológicas: cansaço, sede, vontade de ir ao banheiro, alguma dor. Ou nada disso.
Vencer a monotonia nunca foi um problema, não consigo achar monótono nem mesmo quando a corrida é de 24 horas em torno de uma pista de 400 metros. Nenhuma volta, vai na minha, é igual à outra. É corrida de hamster, mas uma vez que a gente já está lá…
Hoje, correr é parte natural do meu dia. Nos últimos tempos passei por situações que me afastaram temporariamente da corrida, mas ela retorna como uma catarse clareando o raciocínio, bombeando mais forte o coração, deixando o corpo mais vivo.
A endorfina pós treino é essencial para começar o dia.
E quanto a ouvir o ritmo monótono dos próprios passos, já passei provas inteiras observando o som das passadas de corredores, individual e coletivamente. O tipo de pisada, o calçado, o solo, o cansaço etc.
Tudo emite um som peculiar e distinto, portanto não dá pra cair na monotonia, é só aguçar os sentidos e observar que o tempo passa. Ou para!
E isso aí, Ricardo, meu filhão queridão! Beijocassssssa
Beijoicasssssss. Corra e ouça todos os sons à sua volta. As pernas e pés correm . E a cabeça comanda.