Empenhados no espírito investigativo, decidimos questionar esta lei sagrada da corrida de que tênis têm vida útil de, no máximo, 500 quilômetros de rodagem.
Sabe aquele caderninho no qual você anotava a quilometragem percorrida com cada modelo ou até aplicativos modernosos que prometem fazer a conta por você? Pode esquecer. Segundo Anderson Santos, gerente de calçados de running da ASICS, é impossível fazer essa conta na ponta do lápis.
Confira abaixo a entrevista e descubra quando é mesmo a hora de aposentar o pisante.
Jornalistas que Correm: Qual é a durabilidade média de um tênis de corrida?
Anderson Santos: Determinar exatamente é um processo impreciso, existem muitas variantes que influenciam na vida útil de um calçado. Seria uma inverdade dizer que um tênis de corrida dura exatamente 500 quilômetros (média utilizada pelo mercado), pois há uma série de fatores que pode fazer com que o calçado dure menos ou até muito mais do que 500 quilômetros.
JQC: Essa lenda dos 500 K tem fundamento?
AS: Não existem testes comprobatórios realizados por nenhum órgão, entidade ou marca esportiva que definam a durabilidade exata de um tênis de corrida. Não é apenas controlando os quilômetros rodados em uma corrida de rua que se chega a um número real de durabilidade X quilômetros. Quando um corredor se prepara para sua corrida, ou seja, a partir do momento que ele calça o tênis, caminha pela casa, desce escadas ou caminha até seu trajeto… a distância já deve ser computada se quisermos fazer uma medição exata.
JQC: O que mais interfere nesse cálculo?
AS: O perfil da maioria dos consumidores brasileiros é de usar o mesmo tênis para todos os fins. O calçado que ele usa para correr é o mesmo que ele anda de bicicleta, vai à academia, padaria ou passeia no shopping. Por esses hábitos comuns, podemos concluir que todo esse uso influencia no desgaste, na durabilidade e até mesmo nos quilômetros rodados.
Alguns outros importantes fatores que também devem ser levados em conta: o biótipo de cada corredor (principalmente no que se refere a peso corporal), tipo de pisada, volume de treinos (quantas vezes por semana o tênis é utilizado para correr) , tipo de terreno (asfalto, grama ou esteira) e conservação do calçado.
Outra questão fundamental é o tipo de material usados nos tênis de corrida. Cada marca esportiva utiliza uma tecnologia de amortecimento diferente – algumas empresas têm alto poder de investimento em desenvolvimento de novas tecnologias (principalmente na composição de entressolas), já outras marcas não investem muito em novos projetos e utilizam materiais mais convencionais para conseguir um produto de baixo custo e menos durável.
JQC: Como descobrir se o tênis já “venceu”?
AS: A sensibilidade é a melhor “ferramenta” para identificar a aposentadoria de um tênis. Muitas vezes o visual do calçado pode ainda estar intacto, mas as estruturas já estarem comprometidas. Quando a pessoa sentir que o calçado já não amortece mais o impacto, qualquer tipo de desconforto no calce e principalmente se dores começarem a aparecer, chegou a hora de trocar de tênis.
JQC: Quais são os sinais no próprio calçado que indicam desgaste?
AS: Alguns sinais visíveis como descolamento de borracha da sola, descosturas no tecido do cabedal, espumas internas na área do calcanhar expostas ou rasgadas, palmilhas deformadas e até mesmo cadarços danificados são sinais de alerta que indicam desgaste.
JQC: Quais são as possíveis consequências de usar um tênis que já perdeu suas propriedades originais?
AS: Isso pode causar inúmeros problemas de joelho, articulações, dores na lombar a até mesmo no pescoço. Também vale mencionar que o rendimento e a performance do atleta podem não evoluir na prática esportiva e o corredor acaba sendo prejudicado quando o calçado já terminou sua vida útil.
JQC: Quando falamos que o tênis já está desgastado demais, é possível dizer qual é o percentual de amortecimento que ele ainda oferece? Por exemplo: um tênis com mais de 500 K de rodagem amortece apenas 30% do impacto?
AS: É impossível fazer tal medição, pois é preciso saber o uso exato do calçado e por quem foi usado. O biótipo biomecânico das pessoas é único e causa impactos diferentes. Consequentemente são medidas distintas para cada tipo de pessoa.
Meu tenis Asic kayno já passa dos 4.200 km, sei que exagerei um pouco mas nos 3.000 ele ainda estava perfeito
Dois pares de tênis de rodagem, um New Balance 880 V6 e um Saucony Triumph Iso 2, estão com 1300 e 1200 km rodados , respectivamente. O primeiro nem marcas de desgaste externo tem direito.
1 Brooks Launch, para treinos mais rápidos, chegou aos 600 km zerado.
1 Nike Streak 6, usado para treinos chave e provas, está zerado com 250 km.
Ainda inexperiente, levei esse tipo de conta a sério. Hoje percebo que não tem fundamento algum.