Se oferecessem o emprego desse cara para sujeitos viciados em corrida ou mesmo para discípulos aplicados de Endorphynus que (ainda) não atravessam montanhas cascudíssimas, nego não ia pensar duas vezes.
Clayton Conservani, o fluminense boa praça que se lança nos picos lokos do mundo, um tanto mais lokos que este aqui, tem o trampo dos sonhos para muita gente que se interessa por corrida, especialmente aquela feita em condições severas, fora das áreas urbanas.
Ele comando o Planeta Extremo, programa de oito episódios que entra depois do Fantástico em alguns domingos selecionados a dedo. Estive com o camarada recentemente no Jardim Botânico – o jardim mesmo, não o bairro –, no Rio, para um perfil de capa para a revista Sport Life, que chega às bancas esta quinta-feira.
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Clayton já ficou entre a cruz e a caldeirinha no Everest, voltou a ver a casa quase cair no MacKinley, no Alasca, e tremeu junto com o Nepal este ano. Também sofreu para atravessar os 246K de uma das maratonas de resistência no Marrocos, e as cenas em que vemos a carne viva de seus pés durante o evento são pornográficas.
Atravessar 246K do Saara não é para qualquer um, mas Clayton diz à revista que o negócio também não é para “superherois”.
“É para pais de família como eu.”
O interessante é que a história de Clayton nesses desafios se entrelaça com a de muitos outros participantes, o que faz da atração um jornalístico de primeira. Não é só Clayton que atravessa o deserto, mas também o espanhol que cuida voluntariamente das bolhas nos pés dos colegas, o grupo de franceses que conduz deficientes motores, o corredor cego.
Tudo isso num cenário em que calor de 50 graus de dia, frio de 3 graus de noite e tempestades de areia cabulosas eram default.
A edição do programa é de outro fera, o gaúcho Marcelo Outeiral, entrevistado por este pasquim aqui. Com o parceiro Marco Villalobos, essa dupla de detetives sensíveis roteirizou, dirigiu e produziu um documentário que traçou o infausto destino de diversos atletas perseguidos pelo regime militar argentino.
Atletas e Ditadura, o doc, foi feito com recursos próprios pela equipe.
Assita-o em versão reduzida abaixo.