De máscara no cascalho

Paulo Vieira

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CORRER DE MÁSCARA É ESPETO. Mas nesse momento em que o Brasil mal adentra o “platô” da epidemia, usar máscara em ambientes externos – e internos, claro – é uma exigência em diversos estados.

Sabe-se que a cidade de São Paulo irá reabrir seus parques semana que vem. Pelo que já se viu na ciclovia da Pedroso de Morais, e mesmo com a restrição de capacidade de ocupação a 40% nos parques, prepare-se para uma explosão de demanda reprimida de corredores.

Por isso, eis algumas considerações sobre a maledetta.

1. Não dá para correr de máscara. Verdade. A depender da espessura do artefato, em certo momento do cascalho é o queixo ou o pescoço que será “protegido”. Tem sido o caso da máscara da foto abaixo.

2. Dá para correr de máscara. Verdade. Sou testemunha ocular, olfativa e tátil disso (assim como no item anterior). Mas ela tem de ser mais fina.

3. A máscara não impede a propagação do vírus. O ideal é não haver qualquer pessoa no caminho. Se houver, desvie, abra distância, passe ao largo. Eis a grande questão a se levar em conta na reabertura dos parques.

A primeira vez que eu pus você/Foto: Paulo Vieira

4. A Organização Mundial de Saúde prescreve a distância de dois metros como segura; um estudo nórdico, contudo, estabeleceu em 10 metros essa distância no caso de quem corre. o problema são os aerossóis, que podem conter o vírus e ficam em suspensão no ar.

4. Captação menor de oxigênio durante o uso da máscara. Pouco consenso a respeito. Fontes creditam alterações insignificantes. Por outro lado, uma reportagem retirada entre tantas no Google mostra queda da saturação de oxigênio no uso de máscara em corrida de esteira em local fechado. Se no nível do mar a taxa de oxigênio é de 21%, no teste alcança-se 17% – o equivalente a correr em Campos do Jordão (1500 metros de altitude).

5. Segundo reportagem do New York Times, “não há consenso científico sobre a importância do uso da máscara durante o exercício, até porque há poucos estudos a respeito. “Sabe-se, contudo, que é melhor manter o distanciamento de ao menos 2 metros de outras pessoas e que o vírus se propaga com muito mais facilidade em ambientes fechados”, diz, o artigo, na mais pura aplicação da teoria machadiana do Medalhão.

Mas, atenção: um estudo com 7 300 pessoas que desenvolveram a Covid-19 na China mostrou que apenas uma se contaminou em área externa.

6. O suor não é vetor. A saliva – de uma cusparada, por exemplo – sim. Se liga.

7. Máscara encharcada: proteção zero.

8. O pace em geral cai (ah vá!). Usei um Strava ontem no meu 14K e o resultado foi frustrante. Fiz 5:30 mesmo com temperatura favorável e absolutamente ninguém no venerável campus Armando Salles de Oliveira.

9. Professor Zeca, o fundador da assessoria esportiva Z-Track, fez testes com alguns modelos e acabou se adaptando bem ao “buffer”, que é uma espécie de bandana sanfonada que protege pescoço e queixo do frio.  “Até o ritmo voltou ao que era mais ou menos o meu velho normal”, brinca ele.

10. Só pra lembrar – não, claro, que você tenha esquecido: o vírus ainda está por aí.

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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