É EXPLÍCITO E REITERADO O APREÇO DESTE PASQUIM pelos tênis ditos minimalistas, com proteção mínima ou nenhuma.
Ao contrário dos tênis estruturados, com amortecimento, que sustentam o milionário mercado do setor, os minimalistas ou de drop baixo exigem esforços musculares e precisão de movimentos do corredor que acabam por gerar um ciclo virtuoso ao fortalecer pés e articulações de joelhos e tornozelos.
A tese já foi bastante discutida na academia e chegou ao grande público também por conta do livro Nascido para correr, do jornalista estadounidense Christopher McDougall, que conta seu encontro com os índios corredores tarahumaras, do México.
E conta como ele, o autor, deixou de se lesionar ao aderir ao minimalismo.
Tênis minimalistas, contudo, segundo os especialistas, exigem certa posologia. Devem ser ministrados progressivamente e têm contraindicação para pessoas com sobrepeso.
Pois bem, a educadora física Ana Paula da Silva Azevedo acaba de publicar um estudo levado à cabo por ela para o Laboratório de Biomecânica da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP, e suas conclusões reafirmam as vantagens do minimalismo nos pés.
Ou, para ser mais justo, a tese afirma os benefícios de se correr descalço, com nada sob os pés.
Os corredores recreacionais que atuaram como voluntários no “campo” de 16 semanas do estudo chegaram a correr descalços 20% de seu volume semanal de cerca de 44K.
Esse percentual foi alcançado progressivamente ao longo do campo, assim como houve uma transição progressiva das superfícies mais macias para as mais duras durante esse período de 4 meses.
Para o Jornal da USP, que deu ciência ao estudo, a autora disse que os corredores que realizaram parte de seus treinos descalços obtiveram benefícios tais como a alteração na técnica da corrida (flexão de joelho e geometria de pisada), redução média de 20% das forças de impacto e redução de cerca de 60% na ativação muscular.
Correr descalço “resultou em menos risco de lesões, especialmente no joelho e quadril, e maior desempenho”, disse Ana Paula à publicação.
Ela aduziu que “houve evidências de que as pessoas que correram descalças, sem adaptação de treino progressivo, sofreram maior risco de lesões em comparação àquelas que realizaram a adaptação progressiva.”
A pesquisadora disse também que “o ser humano é totalmente adaptável e o aparelho locomotor possui estratégias próprias de proteção que, se adequadamente estimuladas, podem ser tão ou mais eficientes que o calçado.”
A frase é coerente com o que disse a este editor o diretor da EEFE, Júlio Serrão, cuja entrevista está para vir a lume nestes pixels. Em resposta a uma pergunta sobre os benefícios de se empilhar maratonas depois de termos dobrado o Cabo das Tormentas, ou seja, quando estamos com 55, 60, 70 anos, ele disse:
“A gente tem o aparelho locomotor absolutamente dimensionado para correr a vida inteira, os 42K da maratona não são um volume absurdo, desde que respeitados os intervalos, desde que haja uma preparação adequada.”
Tá esperando o quê para aposentar esse drop 10?
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