O homem que não para jamais de correr

Paulo Vieira

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QUANTO VOCÊ CORRE? A pergunta, note, não inclui a preposição para. É só “quanto”. Sim, trata-se de volume, longão, ultra, quilometragem, essas paradas.

O paulista Carlos Dias, Carlão para os íntimos, “super-humano” para o canal History Channel, corre 24 horas seguidas. Faz algumas paradas e trota, ou marcha, sempre lentamente. Mesmo assim, corre: são cerca de 110K a cada um desses giros de 24 horas.

Giros, com s, no plural. Ele não faz isso só em dia de romaria ou em viagem para o haje. Não é essa lança de uma vez na vida, a outra já fora da roda cármica.

Carlão fecha no fim deste outubro, no sábado, 28, na icônica avenida Paulista, o seu Desafio 24 Horas das Capitais, que ele começou em junho, no Rio, e repetiu, até aqui, outras 17 vezes. 

A noite é uma criança (corredora)/Foto: Arquivo Pessoal
A noite é uma criança (corredora)/Foto: Arquivo Pessoal

Já esteve em Curitiba, Brasília, Cuiabá, Campo Grande, Porto Velho, Boa Vista, Manaus, Santarém (PA), Belém, São Luís, Fortaleza, Natal, Recife, Aracaju, Salvador e Porto Seguro (BA).

Em Natal, Santarém, Salvador e Porto Seguro, por conta de dificuldades logísticas, abreviou a corrida para “apenas” 12 horas.

Também já fez uma preliminar  em São Paulo, num convite em cima da hora da Mizuno, durante a  Virada Esportiva, quando correu 24 horas na pista do Centro Olímpico do Ibirapuera – eu paguei uma visita a ele por duas horas, como você pode ver no vídeo embebido abaixo.

Este fim de semana ele vai a Vitória, no Espírito Santo, para a 19ª etapa, na praia de Camburi.

Rei da Orla/Foto: Arquivo Pessoal
Rei da Orla/Foto: Arquivo Pessoal

Nessas rodagens, que são feitas normalmente em parques ou num trecho da orla das cidades litorâneas, ele dá voltas, voltas e mais voltas, já que elas costumam ter no máximo 2K.

Em duas etapas, Curitiba e Brasília, o negócio foi mais pesado: as corridas foram na esteira.

Carlão vive disso. Cada etapa é aberta para o público, que pode se inscrever para correr de 1 minuto às tais 24 horas. A depender do pacote, têm direito a camiseta, medalha ou ambas as coisas.

Como em todas as suas iniciativas, 10% do que o atleta arrecada é destinado ao GRAACC, hospital paulistano de referência na América Latina no tratamento do câncer da criança e do adolescente.

Estive com Carlão na primeira etapa do Desafio, no Leblon, no Rio, quando acompanhei o parça por três horas. Era sábado, véspera da mara do Rio, e o treino em pace 12 (5 km/h) ou ainda mais lento não fez muito bem para a minha performance nos 42K do dia seguinte.

As três horas de trote na véspera com Carlos Dias não irão ser consideradas
O editor deste pasquim (esq.) com Carlão no Rio

Serviu, contudo, para constatar que o esforço de correr em ritmo baixo por diversas horas é bastante considerável, comparável, talvez, com “deixar tudo” numa meia ou mesmo numa mara.

Na praia, para desestressar/Foto: Arquivo Pessoal
Na praia, para desestressar/Foto: Arquivo Pessoal

Para Carlão, ter alguém para acompanhá-lo faz uma diferença anímica imporante, mas estar sozinho, especialmente de noite e no começo da madrugada, não é uma novidade. 

Em Boa Vista encarou quatro horas de solidão. Em Fortaleza, o movimento da Beira-mar compensou as três horas solitárias. “Parecia que tinha ficado poucos minutos sozinho”, disse a este pasquim. 

“Já corri em desertos onde ficava muito tempo só, e esses momentos servem para fortalecer minha mente. Aproveito para planejar coisas.”

No Rio, em junho, Carlão teve um acompanhante em tempo integral, o catarinense Rodolfo Isbrecht, que, pode-se dizer, fazia as vezes também de batedor – Rodolfo é membro da Força Nacional que estava lotada à época no Rio. Ele aproveitou uma folga da guarda para ficar as 24 horas com Carlão.

Carlão numa das etapas do Desafio
Carlão et caterva em outra etapa do Desafio

Agora o atleta espera que São Paulo o receba apoteoticamente.

Começa a rodar no fim da tarde de sábado pela calçada – com estrutura de apoio no Shopping Center 3 – e, quando a avenida Paulista fechar para os carros na manhã de domingo, transformando-se no lugar mais animado da cidade, ele estenderá o Desafio pelos 2,2K da via.

Quem quiser correr com ele pode se inscrever pelo Ticket Agora ou pelo Ativo. Mais informações podem ser obtidas no site do Carlão, neste link.

Ao colocar o ponto final do Desafio na Paulista, por volta das 18 horas, ele já começa a pensar nos 10 000K que separam o Monte Caburaí, em Roraima, o Oiapoque do século 21, do Arroio Chuí, onde o Rio Grande já é Uruguai.

Esse é seu próximo desafio: correr de um extremo a outro do Brasil. Café pequeno. 

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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