ANA CAROLINA NEGRI, que deve ser a fotógrafa mais alto-astral jamais inventada, foi quem falou: inexiste viagem em que Marina Azaredo não acorde de madrugada para correr.
As duas já andaram muito pelo Brasil para fazer as reportagens que recheiam a Azul Magazine, revista de bordo da Azul Linhas Aéreas, em que Marina é editora e Carol uma das mais frequentes colaboradas – eu também já fui, e, atenção, redação, podemos mexer nesse tempo verbal.
Então eu fui saber da Marina que diabo de compulsão é essa. Onde já se viu acordar antes das galinhas para correr?
“Não é bem assim, a Carol ficou um pouco impressionada, gosto de correr de dia. No escuro, no escuro mesmo, nunca saí”, já foi me dizendo essa gaúcha de Rio Grande de 33 anos que corre sem auxílio de planilha e dificilmente participa de provas de corrida – “são muito caras”.
E como muitas das viagens para a Azul são para latitudes mais baixas que a de São Paulo – calor pacas, em duas palavras –, corre-se cedo não por boniteza, mas por precisão. Eu mesmo, quando estava em Jeri justamente com a Carol na minha última reportagem para a Azul, um ano atrás… [entra a múmia paralítica com a sineta] – voltemos à Marina.
CORRENDO COM (OU DE) CAETANO VELOSO EM JERI
O ESPECIALISTA
INDEPENDÊNCIA X PLANILHA
PARE DE USAR PLANILHA
UMA PLANILHA PARA COMEÇAR A CORRER, POR W.O.
PARE DE DISPUTAR PROVAS DE CORRIDA
FOCO, FORÇA E FÉ, TEM CERTEZA QUE PRECISAS DISSO?
A CORRIDA COMO UM ÔNIBUS DE TURISMO PARTICULAR
Marina é mais uma dessas que nutriu um caso de amor pela corrida um tanto misterioso. Via seu pai correndo e “achava bizarro”. Hoje ambos correm juntos quando se encontram e ela jamais deixa passar três ou quatro dias sem ir para o cascalho.
Na verdade não há nada de misterioso nisso: a corrida não é uma atividade muito exigente – embora possa ser – e tem esse estranho magnetismo que cativa as pessoas, especialmente aquelas que vêm de uma longa inatividade física. Quando vê, nego já tá correndo três, quatro vezes por semana e dedicando-se unicamente à corrida.
Não é exatamente o caso de nossa perfilada, que anda, ou andava de bicicleta, e vai, ou ia, à academia. Em São Paulo, Marina corre no parque Trianon, na avenida Paulista, em meio a árvores centenárias e o sempiterno de um dos locais mais agitados da cidade.
Em suas corridas pelo mundo, encantou-se com Havr, a medieval pérola croata. “Uma paisagem linda, com vista para o mar, lugar que eu jamais iria se não fosse correndo, pois nenhum guia indicava.”
Em um parágrafo ela disse o que eu venho tentando falar aqui por 4 anos e meio. E eu nem soprei para ela que considero a corrida o nosso ônibus de turismo particular. Daqueles double decker, vermelhos, o segundo andar bem aberto.
Atualização: o escada do Agildo Ribeiro no quadro da “múmia paralítica”, o do professor Aquiles Arquelau – vejam! –, não era o Paulo Silvino, como originalmente aqui publicado, mas Pedro Farah. Perdão.