O tênis perfeito… …NÃO EXISTE

Paulo Vieira

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AS FABRICANTES vão sempre deixar seus tênis mais caros. E os clientes vão continuar comprando, desde que sejam alegremente convencidos pela conversa fiada da hora.

Tipo: agora sim, este super-amortecimento vai se transformar em propulsão pura.

Me engana que eu gosto. Mas você não precisa cair nesse eterno conto do vigário que retroalimenta a lógica capitalista.

Este pasquim, prenhe da mais pia nostalgia, volta aos não tão remotos tempos do Occupy Wall Street para apresentar as 11 razões para você não trocar (de novo!?!) seu tênis recém-saído da caixa.

O tênis perfeito está para ser inventado. Melhor dizendo: não está para ser inventado. Tal coisa não existe. Exceto, claro o tênis do rolezinho para quem dá rolezinho.

As pessoas adoram se guiar por certo pensamento mágico e um otimismo irrefreável. Acoplando um certo ceticismo, é bastante bom que seja assim. Mas nenhum avanço da tecnologia vai criar algo que vai viver sua vida por você (bem talvez vá, e isso não vai ser nada bom).

A dinâmica é a seguinte: quanto mais conforto você tem, menos esforço é requisitado. Com os pés não é diferente, daí que o excesso de amortecimento pode degenerar em lesões.

Beleza, então tiremos o amortecimento. Eureka, diria o gordo na banheira. Foi assim, imagino, que surgiu o tênis minimalista, abandonado com pouquíssimos anos de vida por claras razões mercadológicas: não dá para justificar para o consumidor que uma luva para os pés custe os mesmos 500, 700 paus de um lançamento convencional.

Mas que o minimalista era bom, ah isso era.

Desconfie das verdades que lhe contam. Quem falou que tênis dura 500K mesmo? Use seu tênis até achar que dá. Simples assim. Meus dois Nike Free vão para três anos de idade e, tirando um pequeno furo na biqueira do azul, parecem que ainda vão conhecer muito cascalho por aí.

Agora tem essa história de baixar o recorde da maratona para menos de 2 horas. Nike e Adidas protagonizam a chamada “corrida espacial” e vão vender tênis de “performance” adoidados. Anote aí os nomes, caso você ainda não saiba, do que tentarão te empurrar: Nike Zoom Vaporfly 4% e Nike Zoom Fly; e Adidas Adizero sub2.

Quantas pessoas precisam de “performance” em suas corridas? Você é atleta profissional? Será que amortecimento “responsivo”, na hipótese bastante heterodoxa de que amortecimento possa mesmo produzir energia, faz alguma diferença para você?

Se quiser mesmo um conselho sobre que tênis comprar, a minha é esta: o mais leve. O mais flexível. O mais baixo. E, se possível, o mais barato. A Decatlhon, por falar nisso, tem produtos bem em conta.

Por fim. Você não precisa necessariamente de um tênis para o asfalto e outro para a terra. Mas na terra tem de considerar que vai escorregar, por isso é bom que ele tenha ranhuras (“groove” ou “grip”, em português castiço). Já quebrei o quinto metatarso (o osso que conecta o dedo mindinho) do pé esquerdo por estar com um Nike Free no pé. A culpa não foi do Free, foi minha.

O NIke Vaporfly e seus tacones lejanos
O NIke Vaporfly e seus tacones lejanos

Bônus track. Cadarço. Vai desamarrar. Então prefira tênis que não tenha. O Free tem, mas como o cabedal “veste” o pé, pode ser arrancado sem problema algum.

Se tiver de usar, compre cadarços especiais, elásticos – a Velocità, por exemplo, vende. O problema é que a ponta desses cadarços também desfia.

 

Veja abaixo alguns dos vídeos sobre tênis produzido por esta casa editorial. E, fineza, prestigie nosso canal no YouTube, que ele anda tão prestigiado quanto técnico de futebol que acaba de perder seu terceiro clássico seguido.

 


Como amarrar seu tênis de corrida

Como limpar seu tênis

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

Um Comentários

  1. Avatar
    Marcos Viana Pinguim

    Olá Paulo!!!

    Parabéns pelo esclarecedor artigo!!! Eu estou me dando muito bem com meu “minimalista” tênis da marca espanhola Joma que já vai para os 5 anos de uso!!!

    Os criadores dos “tênis perfeitos” adoram os “clientes perfeitos” e e vive-versa!!! kkk!!! 😀

    Um grande abraço!!!

    Responder

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