Você sabia que existe um mundo lá fora (que agora se chama offline)?

Paulo Vieira

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SIM, ISSO JÁ FOI LONGE DEMAIS. VOCÊ SIMPLESMENTE não consegue deixar de usar essa – desculpe meu francês – porra. Precisa saber o pace, a quilometragem, fazer malditos desenhos utilizando seu itinerário como caneta.

Precisa tirar selfies, claro, e dizer para o mundo por meio de um aplicativo xis que “colocou na conta mais 7K”.

Tudo isso tendo de manter no bolso ou atado ao braço o aparelho, algo realmente muito pouco confortável quando todo o corpo balança sincopadamente.

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mas quero trazer agora a este pasquim palavras de Yuval Noah Harari, autor do best seller Sapiens. Evidentemente ele não as escreveu para o JQC (ainda!), mas acho que o Financial Times não vai se importar com este humilde gilete-press.

Reduzi bem o artigo, que é portentoso. Você pode lê-lo no original aqui.

O contexto: Harari responde à convocação por uma “comunidade global” virtual de Mark Zuckerberg. E lembra que existe um mundo lá fora – que agora se chama offline.

(A tradução do inglês é do impagável – e portanto ele não receberá um níquel deste pasquim, que já fique avisado – Tabajara Vieira.)

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“Zuckerberg diz que ‘o Facebook tem o compromisso de continuar a aprimorar nossas ferramentas para dar a você o poder de compartilhar sua experiência’. Entretanto, o que as pessoas realmente precisam são ferramentas para se conectar com suas próprias experiências.

Em nome de ‘compartilhar experiências’, as pessoas são estimuladas a entender o que se passa com elas sob os olhos dos outros. Se algo excitante acontece, o instinto primitivo dos usuários do Facebook é pegar o smartphone, fazer uma foto, postá-la e esperar pelas curtidas.

No processo, eles dificilmente prestam atenção ao que realmente sentem. De fato, o que eles sentem é cada vez mais determinado pela quantidade de “likes” do que pela experiência em si.”

Reprodução (Sizzle.com)
Reprodução (Sizzle.com)

E esta outra passagem.

“A raça humana viveu por milhões de anos sem religiões nem países – possivelmente poderia viver alegremente dessa mesma maneira no século 21. Por outro lado, as pessoas não poderiam viver desconectadas de seus próprios corpos. Se você não se sente em casa [confortável] em seu corpo, você nunca vai se sentir em casa no mundo.

Até agora, o modelo de negócio do Facebook estimula as pessoas a passarem cada vez mais tempo online – mesmo que isso signifique ter menos tempo e energia para devotar às atividades que não cabem numa tela de smartphone ou num desktop.”

 

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

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