RARAMENTE LEIO A COLUNA SEMANAL do filósofo Luiz Felipe Pondé na Folha de S. Paulo. Fi-lo hoje. Concordo com a ideia expressa por ele nesta segunda-feira de que “fazer planos muito precisos para o futuro nos adoece”.
Não me canso de repetir aqui que na corrida o que deve governar é o prazer. Traçar metas, seguir planilhas, correr com três cópias de igual teor do excel no bolsilho do calção como faz o Novo Maratonista é percorrer um bom trecho do caminho que leva ao lugar nenhum.
PARE DE USAR PLANILHA
CESINHA CANDIDO, O NOVO MARATONISTA
CORRIDA COM ABRAMOVIC
O PRIMADO DO PRAZER
DESENHANDO COM APLICATIVOS DE CORRIDA
USANDO APLICATIVO DE CORRIDA PARA PEDIR EMPREGO
A NOVA LOJA DA DECATHLON
ARGUMENTOS PARA EVANGELIZADORES DA CORRIDA – PARTE 1
ARGUMENTOS PARA EVANGELIZADORES DA CORRIDA – SAIDEIRA
Sim, você se programa para correr uma maratona, consegue concluí-la, mas e depois? Vai novamente legar a um treinador generalista seu futuro na corrida?
Que tal dar uma chance para o acaso te guiar por novos caminhos?
Mas não estou novamente em missão evangelizadora. Como acordei de muito bom humor e ataquei logo um 17-18K matutino com direito a 5K de umidade amazônica do bosque da Física da USP, tive tempo de compilar mentalmente as verdades – pós verdades? – que seguem.
Segura.
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UM. Quanto mais você posta fotos de seu treino, menos likes obtem. É duro. Até sua mãe vai te abandonar. A não ser que você seja um verdadeiro artista da rede social.
DOIS. Ninguém está minimamente interessado na progressão de sua quilometragem no cascalho. Mas dá para usar o Strava e outros aplicativos de corrida para fazer uns desenhos cabulosos.
TRÊS. Ainda não inventaram sistema de amortecimento mais eficiente do que distribuir o impacto da passada de corrida por todo o pé. Mas, infelizmente, as seiscentas pratas que você empenhou no tênis de performance não podiam ser economizadas no minimalista, que custa a mesma coisa. (Mas sempre existe o basicão da Decathlon.)
QUATRO. Corrida emagrece. Desde que você não sucumba ao apetite bastante eloquente que ela incita. O Treinador Clandestino, livro do estudioso Danilo Balu, apresenta alguns números sobre isso.
CINCO. Você não fica melhor com os caras lá da Justiça Divina por correr uma ou mais maratonas por ano.
SEIS. Educador físico pode ser um excelente motivador, um maravilhoso facilitador de relações sociais, mas ele conhece tanto de seu ofício quanto o nutricionista e o psicólogo dos deles. Que se dê o álibi a todos esses profissionais: as “verdades” nesses campos são tão dinâmicas – ovo pode ou não pode?; alongamento ajuda ou só atrapalha? – que é difícil mesmo saber o que dizer ao cliente.
SETE. Seu vizinho sempre vai conseguir correr mais do que você. Felizmente, isso não quer dizer absolutamente nada.
OITO. Na mesma toada: fazer a meia abaixo de hora e meia, a mara abaixo de 3 horas, os 10K abaixo de 40 minutos: nada disso vai te fazer melhor em absolutamente nada na vida.
NOVE. Correr uma maratona a 3:34 não te facilita a vida na curta Ladeira da Biologia semanas depois se você aliviar muito o pé. Menos mal que ninguém falou que ia ser fácil mesmo.
DEZ. Corrida te dá ótimas ideias. Pena que a gente as esquece mal deixa o cascalho.
Carissimo Paulo,
Eh incrivel como seu poder de sintese jornalistica eh apurado!!!!
A corrida nao nos torna pessoas melhores ou detentores de alguma redencao divina , ou mesmo dividendos futuros, mas seguramente a falta de corrida nos torna, os corredores, pessoas um pouco mais tristes e piores.
Nao tem jeito, eh tribo, religiao que se cultiva todo sabado pela manha, so os iniciados compreende.
Parabens pelo texto e um fortissimo abraco
Você é sempre muito gentil e generoso, Bellas. Fico feliz de partilharmos o mesmo amor dionisíaco pela corrida. Grande abraço.
*compreendem