MEU SOBRINHO FAZ 17 ANOS NO SÁBADO E, COMO SÓI ACONTECER NESTA linda idade, prepara-se para os vestibulares. Inês já é morta em algumas instituições, como a USP, mas ele não sabe ainda o que pretende cursar.
No vestibular da Unesp decidiu, na undécima hora, ir de publicidade.
“Seria bom fazer um teste vocacional”, disse-me.
Seja como for, uma das carreiras pensadas pelo João Pedro foi jornalismo. No que teve um péssimo conselheiro neste jornalista velha-guarda, para usar expressão a mim endereçada no “live” do Facebook que fiz na redação da VIAGEM E TURISMO sexta passada.
O Live, sobre uma viagem de barco pelo Solimões, na Amazônia, objeto de reportagem da edição de setembro da revista, está AQUI.
Expliquei ao João Pedro um tanto sobre a redução do número de jornalistas nas redações, das oportunidades na imbricação jornalismo-publicidade, mas não lhe falei das propostas indecentes que o sindicato patronal, ano após ano, fazem para os funcionários quando chega a data-base.
Cubro a lacuna agora, João.
Falo aqui das negociações deste ano em São Paulo.
A proposta dos patrões para o reajuste foi de 0%. Um pouco abaixo da inflação, portanto, de 9,82% (INPC).
Numa conta de padaria dessas que os diretores da Petrobras fazem, isso que significa que o salário de 6 paus, digamos, virará R$ 5 400. Isso em apenas um ano.
A data-base é junho, mas estamos abrindo outubro e, após seis reuniões, os patrões melhoraram a proposta: agora oferecem 3% para quem ganha no máximo R$ 8 mil. Acima disso, niente, parando nos R$ 240.
Waal, diria Paulo Francis.
O Sindjore, sindicato patronal das empresas de jornais e revistas de São Paulo, usou da mesma parcimônia que devota aos funcionários de seus filiados ao responder às indagações do JQC.
Em e-mail de um parágrafo assinado por “Diretoria”, disse: “Em resposta a sua msg (sic), informamos que as dificuldades do segmento de mídia impressa são de conhecimento público e que, a despeito dessas dificuldades, as negociações com o Sindicato dos Profissionais Jornalistas (sic) continuam em curso.”
Em telefonema ao JQC, Paulo Zocchi, presidente do sindicato dos jornalistas profissionais do estado de São Paulo, disse que essa é a “mais difícil campanha salarial da história” e que “não há precedente de uma proposta, pelos patrões, de reajuste zero”.
“Acho que a ideia deles foi tentar dar um choque no sindicato. E falar o seguinte: ‘Aqui o panorama é totalmente diferente daquele do ano passado’. E qualquer coisa a partir disso teríamos de levantar as mãos para os céus”, diz Zocchi.
NÓS QUE AMÁVAMOS TANTO O JORNALISMO
DANIEL LE ROUGE FALA AO JQC
A SÍNDROME DO CLIENTE
PROTAGONISTA DA PRÓPRIA HISTÓRIA
EXEGETA DA NOVA ERA
CORRENDO COM ABRAMOVIC
O sindicato não é insensível às “dificuldades de conhecimento público”, mas Zocchi lembra que o setor de empresas jornalísticas foi beneficiado com a desoneração da folha salarial no governo Dilma – a tal desoneração tão atacada pelos críticos da Nova Matriz Econômica.
Com a desoneração, as empresas jornalísticas ficaram livres de pagar os 20% de contribuição para a Previdência sobre a folha salarial. Em troca, no fim de 2015, o recolhimento para o governo de 1% sobre o faturamento bruto subiu para 1,5%.
Alguns setores tiveram reajuste maior. A construção civil, por exemplo, teve o imposto aumentado de 2% para 4,5%. O setor de móveis, de 1% para 2,5%.
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Talvez essa nova proposta patronal, que estabelece o teto de reajuste salarial de R$ 240 e atinge a classe média alta das redações, tenha uma finalidade maior, modelar.
Ou moral, em seu sentido mais estrito.
Ela teria o fito de diminuir a desigualdade social brasileira – o sacrifício inicial viria dos valorosos jornalistas.
E eu me flagro aqui pensando nos patrões como avida dollars, para usar o famoso anagrama de Picasso, quando podem ser, na verdade, altruístas a pensar no país.