O que é ruim para os Estados Unidos é ruim para o Brasil?

Paulo Vieira

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HOUVE UM TEMPO EM QUE SE USAVA uma metáfora bastante solene para defender a idoneidade do jornalismo e sua suposta e falaciosa insubordinação aos interesses pecuniários. Era a tal igreja versus Estado, em que, de uma parte, provavelmente a parte carola, ficavam os jornalistas; de outra, os publicitários.

Se havia a tal separação, ela evidentemente não era de ordem moral, mas física.

Eu mesmo, nos mais de 20 anos e fumaça de vida dentro de redação, convivi com pouquíssimos publicitários. Mas, como no velho bordão dos tubos Persico Pizzamiglio (oi?), você não vê, mas nós estamos aí.

Graças a Deus (Igreja!) os publicitários estavam, senão teríamos dado muito antes com os burros n’água.

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O nariz-de-cera digno da Madame Tussauds cumpre o dever, e o faz bem, quero crer, de introduzir informação relevante. Este pasquim acaba de aumentar seu acervo de colaboradores. Quem vem agora para nosso lado do balcão endorfínico é o publicitário e homem de marketing especialista em consumo, tecnologia e mercado esportivo Daniel Krutman.

Mesmo com seus invejáveis – eu quase dizia risíveis – 32 anos, já tem passagens por importantes empresas do setor e atualmente comanda marketing e negócios da plataforma de marketplace esportivo Ticket Agora, além dos portais Webrun e Webventure.

Daniel vai aparecer nestes pixels quinzenalmente, e nesta sua estreia já chega chegando. Ele prevê tempos bicudos para o mercado de corrida.

Uma primavera outonal, diria o poeta.

Segura, que lá vem textão.

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A queda do mercado de corridas nos Estados Unidos anuncia o que vem por aí. Ou: o que é ruim para os States é ruim para o Brasil

Segundo a agência Running USA, o mercado de corridas de rua americano acumula dois anos consecutivos de baixa. O principal indicador considerado, o número de concluintes (finishers) de provas de rua, mostra queda de aproximadamente 2 milhões de pessoas. 

Se em 2013 eram 19 milhões de concluintes, em 2015 foram pouco mais de 17 milhões.

A participação entre mulheres e homens continua a mesma: 57% e 43%, respectivamente. A queda também foi proporcional entre os sexos.

É importante reiterar que os números dizem respeito aos competidores inscritos em provas, não o número de corredores amadores do país. 

Mas e a gente com isso?

O mercado americano prognostica o que deve se passar em outros países. No Brasil, o fenômeno já foi retratado na evolução, por exemplo, da participação crescente de mulheres, hoje em maior número nas provas de rua.

O Ticket Agora, um dos principais sites de inscrições para corridas do Brasil, tem 52% delas feitas por mulheres. Há alguns anos, o número era de 48%.

O mercado brasileiro de corridas irá então diminuir? Provavelmente não nos próximos dois anos, o “delay” histórico para espelharmos o comportamento do mercado americano.

A crise econômica e política de 2015 e 2016 é que tem sido responsável pela freada do crescimento por aqui, que vinha em taxas médias de 20% a 25%. Neste ano deve oscilar entre 5% e 10%.

E por que raios ocorre essa retração nos EUA?

Especialistas reuniram-se em julho deste ano em Denver, em conferência sobre o mercado de corridas do país. As hipóteses principais são as seguintes:  

– Não há crescimento que não termine. Em algum momento, seria preciso manter e consolidar o mercado, e o boom de duas décadas chegou ao fim em 2013, com o teto de 19 milhões de concluintes. 

– Uma enxurrada de players trouxe eventos em muitos lugares, para todos os gostos. E aventureiros acabam por quebrar. Fala-se muito, por isso, na diminuição da atratividade do mercado por conta de uma concorrência severa e capilarizada.

– A nova geração, a dos millenials, exigente e conectada, demanda uma experiência completa. Não basta mais uma simples prova de corrida de rua, mas um evento que reúna múltiplas opções esportivas, como crossfit, dança e treinamento funcional.

– Os jovens estão correndo menos. Segundo estudo da agência Sports & Fitness Industry Association, entre 2013 e 2015 o número de concluintes de 25 a 34 anos caiu 19%. Na faixa entre 18 a 24 anos, a queda foi de 22%.

E aqui?

Como nos Estados Unidos, muitos players, crescimento agressivo e uma parcela grande da população ainda jovem compõem nosso cenário.

Assim, é razoável antever uma parada no crescimento do mercado de corrida nos próximos anos e, quem sabe, queda. Mas, mesmo que isso ocorra, será uma oportunidade para reflexão, para descobrirmos como consolidar o mercado brasileiro e melhorar as entregas dos eventos.

Com certeza ainda temos muito o que caminhar para valorizar o esporte e alcançar o seu potencial máximo. 

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Paulo Vieira

Influenciado pelo velho “Guia completo da corrida”, do finado James Fixx, Paulo Vieira fez da calça jeans bermuda e começou a correr pela avenida Sumaré, em São Paulo, na adolescência, nos anos 1980. Mais tarde, após longo interregno, voltou com os quatro pés nos anos 2000, e agora coleciona maratonas – 9 (4 em SP, 2 Uphill Rio do Rastro, Rio, UDI e uma na Nova Zelândia), com viés de alta – e distâncias menos auspiciosas. Prefere o cascalho de cada dia às provas de domingo e faz da corrida plataforma para voos metafísicos, muitos dos quais você encontra nestas páginas. Evoé.

Um Comentários

  1. Avatar
    Antonio Bellas

    A festa ia acabar uma hora!
    E como todo boom, sobrevivem apenas os melhores e mais fortes!
    Acabar não vai, mas seguramente vai retrair
    Muito interessante o post

    Responder

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